Miles Dewey Davis Jr nasceu em Alton, nos Estados Unidos, há exatos 85 anos, em 26 de maio de 1926.
Trompetista, compositor e bandleader de jazz norte-americano, considerado um dos mais influentes músicos do século XX, Davis esteve na vanguarda de quase todos os desenvolvimentos do jazz desde a Segunda Guerra Mundial até a década de 1990.
Participou de várias gravações do bebop e das primeiras gravações do cool jazz.
Fez parte do desenvolvimento do jazz modal, e também do jazz fusion que originou-se do trabalho dele com outros músicos no final da década de 60 e no começo da década de 70.
Miles Davis pertenceu a uma classe tradicional de trompetistas de jazz, que começou com Buddy Bolden e desenvolveu-se com Joe Oliver, Louis Armstrong, Roy Eldridge e Dizzy Gillespie.
Ao contrário desses músicos, Davis nunca foi considerado um alto nível de habilidade técnica.
Seu grande êxito como músico, entretanto, foi ir mais além do que ser influente e distinto em seu instrumento, e moldar estilos inteiros e maneiras de fazer música através dos seus trabalhos.
Muitos dos mais importantes músicos de jazz fizeram seu nome na segunda metade do século XX nos grupos de Miles Davis, incluindo Joe Zawinul, Chick Corea, Herbie Hancock, John Coltrane, Wayne Shorter, George Coleman, Kenny Garrett, Tony Williams e John McLaughlin.
Como trompetista, Miles Davis tinha um som puro e claro, mas também uma incomum liberdade de articulação e altura.
Ficou conhecido por ter um registro baixo e minimalista de tocar, mas também era capaz de conseguir alta complexidade e técnica com seu trompete.
Miles Davis nasceu em uma família relativamente rica em Alton, no estado de Illinois.
Seu pai era dentista e, em 1927, sua família se mudou para East St. Louis.
A mãe de Davis, Cleota Mae Davis, queria que seu filho aprendesse a tocar piano - ela era uma hábil pianista de blues, mas manteve isso escondido de seu filho.
Os estudos musicais de Miles começaram aos treze anos, quando seu pai lhe deu um trompete novo e providenciou algumas aulas com um trompetista local, Elwood Buchanan.
Aos dezesseis anos, Davis era membro de um círculo de músicos e trabalhava profissionalmente quando não estava na escola.
Aos dezessete, passou um ano tocando no grupo de Eddie Randle, os Blue Devils.
Sonny Stitt tentou convencê-lo a se juntar à banda de Tiny Bradshaw, atravessando a cidade, mas sua mãe negou, alegando que ele terminasse seu último ano na escola.
Em 1944, o grupo de Billy Eckstine foi tocar em St. Louis.
Dizzy Gillespie e Charlie Parker eram integrantes, e por causa de uma doença com Buddy Anderson, Davis atuou como o terceiro trompetista por algumas semanas.
Quando o grupo saiu da cidade para completar sua turnê Miles ficou, pois seus pais insistiram ainda para ele completar seus estudos acadêmicos.
Em 1944, Davis mudou-se para Nova York para conseguir uma bolsa de estudos na Juilliard School, mas ao invés disso ele decidiu procurar a banda de Charlie Parker.
Suas primeiras gravações foram feitas em
1945 com o cantor de blues "
Rubberlegs"
Williams e o sax-tenorista
Herby Fields.
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Charlie Parker e Miles Davis em 1947. |
Em 1948, teve seu aprendizado como sideman, tanto no palco como no estúdio, e estava começando a desenvolver-se como artista solo.
A partir de 1949 começou sua parceria com Gil Evans, com quem colaboraria pelos próximos vinte anos.
Neste mesmo ano, Davis visitou a Europa pela primeira vez e se apresentou no Paris Jazz Festival em maio.
A partir de então data os problemas de Davis com as drogas.
Tocando em bares de Nova York, Davis estava em frequente contato com pessoas que usavam e vendiam drogas.
Em 1950, como muito dos seus contemporâneos, ele adquire vício em heroína.
Entre 1950 e 1955, Davis fez gravações para os selos Prestige e Blue Note Records, numa variedade de pequenos grupos.
Por causa de seu problema com drogas, Davis ganhou uma reputação de irresponsável.
Entre 1953 e 1954 entretanto, ele retorna a East St. Luis e se tranca em um quarto na farmácia de seu pai por doze dias até que conseguisse estar livre das drogas.
Após superar seu vício de heroína com a ajuda de Sugar Ray Robinson, Davis fez uma série de importantes gravações para o selo Prestige em 1954, mais tarde reunidas nos álbuns "Bag's groove", "Miles Davis and the modern jazz giants" e "Walkin'".
Nessa época, ele começa a usar a surdina para e abrandar o timbre de seu trompete.
Este trompete com surdina seria associado com Davis pelo resto de sua vida.
Em 1955, Davis dá vida a seu primeiro Miles Davis Quintet.
Este grupo apresentava John Coltrane (saxofone tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (contrabaixo) e Philly Joe Jones (bateria).
Evitando a complexidade rítmica e harmônica do então prevalecente bebop, Davis se permitiu a tocar essencialmente em linhas melódicas em que ele começaria a explorar o jazz modal.
Nessa época,
Davis foi influenciado pelo pianista
Ahmad Jamal, que contrastava seu som esparso com o atarefado som do bebop.
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Miles Davis em 1955. |
O quinteto nunca foi estável entretanto, com muitos dos integrantes usando heroína e o Miles Davis Quintet acabou em 1957.
Em 1958, o quinteto foi reformado em um sexteto, com a adição de Julian Adderley no saxofone alto.
No final da década de 50 e começo da década de 60, Davis gravou uma série de álbuns com Gil Evans, tocando trompete assim como flugelhorn.
O primeiro, "Miles ahead", de 1957, apresenta ele tocando com uma big band e um arranjo de cornetas por Evans.
As faixas do álbum incluem, "The duke" de Dave Brubeck, "The maids of Cadiz" de Léo Delibes, a qual seria sua primeira peça de música clássica europeia a gravar.
Em 1958, Davis e Evans gravaram "Porgy and bess", um arranjo das peças de George Gershwin.
Este álbum apresentava membros de seu grupo atual da época, incluindo Paul Chambers, Philly Joe Jones, e Julian Adderley.
Davis considerou este álbum como um dos seus favoritos.
Após gravar "Milestones", Garland (piano) e Jones (bateria) foram substituídos por Bill Evans e Jimmy Cobb.
A improvisação introspectiva de Evans, treinada na música clássica, influenciou o som do resto do grupo e os permitiu explorar mais profundamente a música do que nunca, promovendo o avanço do jazz modal.
Evans saiu no final de 1958, substituído por Wynton Kelly.
Em março e abril de 1959, Davis voltou mais uma vez com seu sexteto para gravar o que seria considerada sua magnum opus, "Kind of blue".
No mesmo ano, enquanto fazia uma pausa de um show do lado de fora de um famoso nightclub de Nova York, o "Birdland", Miles Davis foi atacado por policiais americanos e foi consequentemente preso.
Acreditando ter sido o ataque por motivos raciais, ele tentou levar o caso ao tribunal, mas acabou desistindo.
Miles Davis convenceu John Coltrane a tocar com o grupo em uma turnê pela Europa em 1960.
Coltrane, que tinha saído para formar seu clássico quarteto, voltou para gravar algumas faixas do álbum de 1961, "Someday my prince will come".
Em 1963, o grupo de Miles Davis com Kelly, Chambers e Cobb acaba.
Ele começa a formar um novo grupo, incluindo o saxofonista tenor George Coleman e o baixista Ron Carter.
Poucas semanas depois, o baterista Tony Williams e o pianista Herbie Hancock se juntaram ao grupo.
Coleman sai em 1964, e é substituído pelo saxofonista de avant-garde jazz Sam Rivers, por sugestão de Tony Williams.
Rivers ficaria no grupo por pouco tempo, gravando com o quinteto em um show no Japão.
Em seguida, Miles Davis convenceu Wayne Shorter a sair do "Jazz Messengers", grupo do baterista Art Blakey.
Shorter se tornou o principal compositor do quinteto de Miles Davis, algumas composições suas daquela época, como "Footprints" e "Nefertiti", se tornaram sucesso.
Enquanto estavam numa turnê pela Europa, o grupo fez sua primeira gravação oficial, o álbum "Miles in Berlin".
Voltando para os Estados Unidos naquele ano, Davis, a pedido de Jackie DeShannon, fez uma recomendação à Columbia para assinar com os The Byrds.
Na época do álbum "E.S.P", de 1965, a formação do grupo de Miles Davis consistia em Wayne Shorter no saxofone, Herbie Hancock no piano, Ron Carter no baixo e Tony Williams na bateria.
Sessões em Chicago no final de 1965 foram capturadas no álbum "The complete live at the plugged nickel".
Ao contrário dos álbuns de estúdio do grupo, a apresentação ao vivo mostrava o grupo ainda tocando standards e bebops.
Este foi seguido por uma série de gravações de estúdios: "Miles smiles" (1966), "Sorcerer" (1967), "Nefertiti" (1967), "Miles in the sky" (1968) e "Filles de Kilimanjaro" (1968).
Em 1967, o grupo começou a tocar seus concertos ao vivo em sets contínuos, com cada canção fluindo para outra e somente a melodia indicava alguma demarcação.
O grupo de Davis iria continuar a tocar desse modo até seu retiro em 1975.
"Miles in the sky" e "Filles de Kilimanjaro", no qual o baixo elétrico, piano elétrico e a guitarra foram introduzidas em algumas faixas, apontavam consequentemente para a fase fusion de Miles.
Davis também começou a experimentar ritmos como o rock nessas gravações.
Nas gravações da segunda metade de "Filles de Kilimanjaro", Dave Holland e Chick Corea substituíram Carter e Hancock no grupo, apesar de ambos ocasionalmente virem a contribuir em sessões futuras de gravações.
As influências de Miles Davis no final da década de 60 incluíam o acid rock e artistas funk como James Brown e Jimi Hendrix.
A transição musical requereu que Davis e seu grupo se adaptassem aos instrumentos elétricos, tanto em estúdio quanto performances ao vivo.
Em 1972, Davis foi introduzido à música de Karlheinz Stockhausen por um jovem arranjador e violoncelista, e mais tarde ganhador de um Grammy, Paul Buckmaster, o levando a um período novo de exploração criativa.
Vários álbuns ao vivo foram gravados durante o começo da década de 70, como "It's about time" (março de 1970), "Black beauty" (abril de 1970) e "At fillmore" (junho de 1970).
Na época de "Live-Evil", em dezembro de 1970, o conjunto de Davis se transformou em um grupo mais orientado ao funk.
Davis começou experimentando os efeitos do wah-wah em seu trompete.
"On the corner" (1972) juntou elementos do funk com estilos tradicionais do jazz que ele havia tocado em toda sua carreira.
Este álbum foi realçado pela aparição do saxofonista Carlos Garnett, provocando um feroz menosprezo dos críticos.
"Big fun" (1974) foi um álbum duplo contendo quatro longas jams gravadas entre 1969 e 1972.
Semelhante, "Get up with it", de 1975, coletou gravações dos cinco anos anteriores.
Este foi seu último álbum de estúdio da década de
1970.
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Miles Davis no Rio de Janeiro em maio de 1974. |
Em
1974 e
1975, a
Columbia gravou três LP's duplos de shows ao vivos de Davis: "
Dark magus", "
Agharta" e "
Pangaea".
Estes álbuns seriam os últimos que ele gravaria pelos próximos cinco anos.
Davis estava com osteoartrite (o que o levou a fazer uma operação na bacia em 1976, a primeira de muitas), anemia falciforme, bursite, depressão, úlceras e uma nova dependência em álcool e drogas (principalmente heroína).
Depois do Festival de Jazz de Newport no Avery Fisher Hall em Nova York em 1975, Miles Davis retirou-se quase que por completo do público por seis anos.
Durante este período de inatividade, Davis viu a música fusion, que ele tinha estado na vanguarda na década passada, entrando para a mainstream.
Quando ele saiu de seu retiro, os descendentes musicais de Miles Davis estariam no âmbito do rock new wave, e mais em particular no estilo de Prince.
Em 1979, Miles estava se relacionando com a atriz Cicely Tyson.
Com Tyson, Davis iria superar seu vício com as drogas e recuperar seu entusiasmo pela música.
Como ele tinha parado de tocar trompete há quase três anos, recuperar sua embocadura no instrumento provou ser particularmente árduo para ele.
Enquanto gravava "The man with the horn", Miles tocou seu trompete na maior parte com wah-wah, com um jovem e grande grupo.
Ele se casou com Tyson em 1981 e se divorciariam em 1988.
Na metade do ano de 1983, enquanto trabalhava nas faixas de "Decoy", um álbum misturando soul music e eletrônica que foi lançado em 1984, Miles trouxe como produtor, compositor e tecladista Robert Irving, quem tinha colaborado antes com Miles em "The man with the horn".
Miles tocou uma série de sessões na
Europa para buscar um recebimento positivo de seus fãs.
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Miles Davis na Alemanha em 1984. |
"You're under arrest" foi o próximo álbum de Miles Davis, lançado em 1985, abrangendo uma outra breve mudança sua de estilo.
No álbum incluiu como uma de suas interpretações, a balada de Cyndi Lauper "Time after time" e "Human nature" de Michael Jackson.
Pouco tempo depois Davis assina com a Warner Brothers, voltando a gravar com Marcus Miller.
O resultado dessa gravação é o álbum "Tutu" (1986), que seria seu primeiro álbum a usar ferramentas modernas de estúdio - sintetizadores programados, samples e loops de baterias.
Ganhando análises positivas no seu lançamento, o álbum seria frequentemente descrito como a cópia moderna do clássico "Sketches of Spain", ganhando um Grammy em 1987.
Após "Tutu", Miles lança o álbum "Amandla", outro trabalho com Miller e com George Duke, além das trilhas sonoras para quatro filmes: "Street smart", "Siesta", "The hot spot" e "Dingo".
Suas últimas gravações, ambas lançadas postumamentes, foram o álbum "Doop-Bop", bastante influenciado pelo hip hop e "Miles & Quincy live at Montreux", um trabalho com Quincy Jones para o festival de Jazz de Montreux no qual Miles tocou seu repertório de gravações dos anos 60 pela primeira vez em décadas.
Miles Davis, premiado compositor e trompetista norte-americano, faleceu em 28 de setembro de 1991 de AVC, pneumonia e insuficiência respiratória, em Santa Mônica, Califórnia, aos 65 anos.
Ele foi enterrado no Woodlawn Cemetery, no Bronx, Nova York.
Em 13 de março de 2006, Davis foi postumamente incluído no Rock and Roll Hall of Fame.
Ele foi também incluído no St. Louis Walk of Fame, Big Band and Jazz Hall of Fame, e no Down Beat's Jazz Hall of Fame.