Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, há exatos 130 anos, em 13 de maio de 1881.
Mais conhecido como Lima Barreto, foi um jornalista e um dos mais importantes escritores libertários brasileiros.
Filho de Joaquim Henriques de Lima Barreto (mulato nascido escravo) e de Amália Augusta (filha de escrava agregada), Lima Barreto, mulato num Brasil que mal acabara de abolir oficialmente a escravatura, teve oportunidade de boa instrução escolar.
Após a morte da mãe passou a frequentar a escola pública de D. Teresa Pimentel do Amaral.
Em seguida, passou a cursar o Liceu Popular Niteroiense, após o seu padrinho, o Visconde de Ouro Preto, concordar em custear sua educação.
Lá ficará até 1894, completando o curso secundário e parte do supletivo.
Em 1895, transferiu-se para a única instituição pública de ensino secundário da época, o conceituado Colégio Pedro II, cujos estudantes eram oriundos basicamente da elite econômica.
No ano de 1895 foi admitido no curso da Escola Politécnica, no Rio de Janeiro.
Porém, foi obrigado a abandoná-lo em 1904 para assumir o sustento dos irmãos, devido à loucura que afligiu o seu pai.
Tendo sido repetidamente reprovado por não se interessar muito pelas matérias - passava as tardes na Biblioteca Nacional -, deixou de graduar-se em Mecânica.
Data dessa época a sua entrada no Ministério da Guerra como amanuense, por concurso.
O cargo, somado às muitas colaborações em diversos órgãos da imprensa escrita, garantia-lhe algum sustento financeiro.
Não obstante, o escritor cada vez mais deixava-se consumir pelo alcoolismo e por estados emocionais caracterizados por crises de profunda depressão e morbidez.
Lima Barreto começou a sua colaboração na imprensa desde estudante, em 1902, no "A quinzena alegre", depois no "Tagarela", "O diabo", e na "Revista da Época".
Em jornais de maior circulação, começou em 1905, escrevendo no "Correio da Manhã".
Daí em diante, colaborou em vários jornais e revistas, como "Fon-fon", "Floreal", "Gazeta da Tarde", "Jornal do Commercio", "Correio da Noite", "A Noite", "A lanterna", "Brás Cubas" e "O mundo literário".
Em 1909 estreou como escritor de ficção, publicando, em Portugal, o romance "Recordações do escrivão Isaías Caminha".
A narrativa de Lima Barreto nesse primeiro livro, pincelada com indisfarçáveis traços autobiográficos, mostra uma contundente crítica à sociedade brasileira, por ele considerada preconceituosa e profundamente hipócrita.
Até mesmo os bastidores da imprensa opinativa são alvo de sua narrativa mordaz, inspirados na redação do "Cartas da Tarde".
Lima Barreto foi o crítico mais agudo da época da República Velha no Brasil, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem da República, que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares.
Em 1911 começou a publicação, em formato de folhetins no "Jornal do Commercio" do Rio de Janeiro, de sua mais importante obra, "Triste fim de Policarpo Quaresma", que anos mais tarde (1915) foi editado em brochura e considerado pela crítica especializada como basilar no período do Pré-Modernismo.
Entre os leitores, as duas obras anteriormente citadas alcançaram algum êxito, o que não impediu que o autor sofresse severas críticas de outros escritores da época.
Baseavam-se elas no fato de Lima Barreto fugir, conscientemente, do padrão empolado de escrever que à época vigorava.
Chamavam-no "relaxado" por não usar o português castiço e utilizar uma linguagem mais coloquial, muito própria de quem militava na imprensa.
Incomodava também o fato de seus personagens não seguirem o molde vigente, que impunha limites à criação e exaltava determinadas características psicológicas.
Não à toa viu frustradas suas tentativas de ingressar na Academia Brasileira de Letras.
A respeito de seus impiedosos críticos e inimigos, Lima Barreto acusava-os de fazerem da literatura não uma arte e sim algo mecânico, uma espécie de "continuação do exame de português jurídico".
Simpático ao anarquismo, passou a militar na imprensa socialista.
Sua vida foi atribulada pelo alcoolismo e por internações psiquiátricas, ocorridas durante suas crises severas de depressão - à época era um dos sintomas pertencentes ao diagnóstico de "neurastenia", constante de sua ficha médica - vindo a falecer em 1 de novembro de 1922, aos 41 anos de idade.
Em 1993, retomando as pesquisas realizadas por Francisco de Assis Barbosa, biógrafo do autor e principal gestor da publicação póstuma de sua obra, Bernardo de Mendonça reuniu no livro "Um longo sonho do futuro" os seus principais textos confessionais, o "Diário íntimo" e o "Diário do hospício", a artigos de jornal e a correspondência ativa, para compor um grande painel autobiográfico deste escritor que, na interpretação de muitos de seus leitores, encarna um dos maiores e inquietantes exemplos, não só do desencontro entre arte e mercado, mas das iniquidades sociais na história brasileira.
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