Ney de Sousa Pereira, mais conhecido como Ney Matogrosso, é um cantor, coreógrafo, bailarino, dramaturgo e ator brasileiro, nascido em Bela Vista, atual Mato Grosso do Sul, há exatos 70 anos, em 1 de agosto de 1941.
Atualmente considerado um dos intérpretes brasileiros mais produtivos, o nome artístico Ney Matogrosso foi adotado somente em 1971, quando se mudou para São Paulo.
Desde cedo demonstrou dotes artísticos: cantava, pintava e interpretava.
Teve a infância e a adolescência marcadas pela solidão e, ao completar dezessete anos, deixou a casa da família para ingressar na Aeronáutica.
Ney ainda estava indeciso quanto à futura profissão.
Gostava de teatro e cantava esporadicamente, mas acabou indo trabalhar no laboratório de anatomia patológica do Hospital de Base de Brasília, a convite de um primo.
Tempos depois foi convidado para participar de um festival universitário e chegou a formar um quarteto vocal.
Depois do festival, fez de tudo um pouco, até atuou em um programa de televisão.
Também concentrou suas atenções no teatro, decidido a ser ator.
Desembarcou no Rio de Janeiro em 1966, onde passou a viver da confecção e venda de peças de artesanato em couro.
Ao conhecer o produtor musical João Ricardo, que procurava um cantor de voz aguda para um conjunto musical, Ney Matogrosso foi convidado para ser o cantor do grupo Secos & Molhados, com o qual gravou dois discos, ambos auto-intitulados e lançados pela extinta gravadora Continental, entre 1973 e 1974.
O álbum chegou à marca de um milhão de cópias vendidas e gerou vários sucessos, como O vira, Rosa de Hiroxima, Sangue latino, O patrão nosso de cada dia e Flores astrais.
Ney Matogrosso (ao centro) no grupo Secos & Molhados. |
Saiu dos Secos & Molhados em 1974 e no ano seguinte lançou o primeiro disco solo, Água do céu-pássaro.
Foi considerado extravagante demais e obteve vendagem inexpressiva, destacando no repertório as músicas América do Sul e o mambo Kubanacan, além da regravação de um fado de Amália Rodrigues (Barco negro) e canções de Milton Nascimento e João Bosco.
Em 1976 veio o reconhecimento, com o disco Bandido.
A canção Bandido corazón tornou-se um grande sucesso na voz de Ney Matogrosso.
Além desta, o disco trazia, dentre outras, as músicas Pra não morrer de tristeza, de João Silva e Caboclinho, Trepa no coqueiro, de Ari Kerner, Gaivota, de Gilberto Gil, Usina de prata, de Rosinha de Valença e Mulheres de Atenas, de Chico Buarque.
Nessa época, Ney Matogrosso escandalizava o Brasil.
Bandido é considerado o espetáculo mais ousado da carreira do cantor e perfomático Ney Matogrosso.
Na seqüência, vieram Pecado (1977), que trouxe músicas do espetáculo calcado na divulgação do disco anterior que ainda não haviam sido registradas em disco.
Este também foi o último trabalho feito para a gravadora Continental, em um repertório que misturou rock (Metamorfose ambulante, de Raul Seixas e Com a boca no mundo, de Rita Lee), bossa nova (Desafinado, de Tom Jobim e Newton Mendonça), tango (Retrato marrom, de Fausto Nilo e Rodger Rogério) e as regravações das músicas Da cor do pecado, de Bororó e Sangue latino.
O álbum Feitiço (1978) marcou a estréia na gravadora WEA, e trouxe alguns sucessos como Bandoleiro, Mal necessário, O tic-tac do meu coração e o frevo Não existe pecado ao sul do Equador, de Chico Buarque e Rui Guerra.
Já em Seu tipo (1979), onde tirou pela primeira vez a fantasia para se apresentar de cara limpa, o repertório foi puxado pela faixa-título, de autoria de Eduardo Dusek em parceria com Luís Carlos Góis, bem como Tom Jobim (Falando de amor) e canções de Fátima Guedes e Joyce (Dor medonha e Ardente, respectivamente).
Ney terminou a década de 70 e começou a de 80 totalmente transgressor, sendo ameaçado várias vezes pelo regime militar.
Nesse período, lançou alguns dos maiores sucessos: Homem com H, Vida vida, Pro dia nascer feliz, Vereda tropical, Amor objeto, Seu tipo, Por debaixo dos panos, Promessas demais, Tanto amar, Ando meio desligado, entre outros.
Apresentando coreografias erotizantes e expondo sua masculinidade como um contraponto à ousadia nos tempos de chumbo, Ney Matogrosso acaba por influenciar toda uma geração de artistas.
Em 1980 lança Sujeito estranho, que não obteve muita repercussão.
No repertório, todo composto por canções apresentadas no espetáculo Seu tipo, mas que não haviam sido gravadas no álbum homônimo, destaque para a canção Napoleão, da dupla Luli e Lucina, Doce vampiro e Ando meio desligado, ambas de Rita Lee.
Prosseguiu com o álbum auto-intitulado de 1981, que marcou a estréia na gravadora Ariola.
O álbum contou com a produção de Mazzola, arranjos de César Camargo Mariano e Lincoln Olivetti, trazendo alguns êxitos como Viajante de Teresa Tinoco, Amor objeto, Folia no matagal, Vida vida, Espinha de bacalhau e Homem com H.
Ney Matogrosso em performance no início dos anos 80. |
No ano seguinte lançou o álbum Mato Grosso, que não obteve o total êxito artístico do disco lançado no ano anterior.
Mesmo assim, o trabalho emplacou Promessas demais, Por debaixo dos panos, Primeiro de abril e Tanto amar.
Em 1983 lançou o disco Pois é, cujos maiores sucessos foram Pro dia nascer feliz e a paródia Telma eu não sou gay (da música americana Tell me once again).
O álbum subsequente, Destino de aventureiro, de 1984, cujo repertório incluiu músicas do espetáculo calcado na divulgação do trabalho anterior, trouxe duas regravações: Por que a gente é assim, de Frejat, Cazuza e Ezequiel, e Retrato marrom.
Bugre (1986) apresentou uma sonoridade pop com alta dose de eletrônica, onde o cantor mostrava seu lado compositor assinando músicas com Leoni (Dívidas de amor) e a dupla Paulo Ricardo e Luiz Schiavon, com destaque no repertório para Balada do louco, de Rita Lee e Arnaldo Baptista, e a rumba Las Muchachas de Copacabana, de Chico Buarque.
Em 1987, Ney Matogrosso entra em uma nova fase com o elogiadíssimo LP Pescador de pérolas, lançado pela gravadora CBS, gravado ao vivo.
O repertório apresenta clásssicos da música brasileira e latina, uma ária de ópera, e contou com a participação especial de quatro músicos: Rafael Rabello (violão), Arthur Moreira Lima (piano), Paulo Moura (sax) e Chacal (percussão).
Motivado pelo êxito artístico e comercial deste, prosseguiu com o denso álbum Quem não vive tem medo da morte (1988).
No repertório, algumas canções como Dama do cassino (Caetano Veloso), Todo o sentimento (Chico Buarque) e Tudo é amor (Cazuza).
Em 1989 lançou o álbum Ao vivo, o último pela extinta gravadora CBS.
O repertório trouxe regravações de antigos sucessos, entre outras músicas as quais nunca havia gravado, como Comida (do repertório do grupo Titãs) e O beco (Os paralamas do sucesso), além da regravação da música Morena de Angola (Chico Buarque).
Durante a década de 90 voltou a trabalhar com Raphael Rabello (no elogiadíssimo álbum À flor da pele, de 1990, lançado pela gravadora Som Livre), e ao transferir-se para a extinta gravadora PolyGram (atualmente Universal Music), gravou um disco junto com o grupo Aquarela carioca (As aparências enganam, de 1993) e também álbuns dedicados a intérpretes e compositores, como um abordando o repertório de Ângela Maria (Estava escrito, 1994).
Prosseguiu com outro álbum só com canções de Chico Buarque (Um brasileiro, 1996), um voltado para as canções da dupla Tom Jobim e Heitor Villa-Lobos (O cair da tarde, 1997), dois em homenagem a Cartola (Ney Matogrosso interpreta Cartola, 2002 e Ney Matogrosso interpreta Cartola - ao vivo, de 2003), e o elogiado Batuque, lançado em 2001, apenas com canções anteriores à revolucionária década de 60, priorizando Carmen Miranda, além de um disco com canções inéditas, homenageando compositores da nova geração (Olhos de farol, 1999).
O espetáculo calcado na divulgação deste último acabou por gerar um álbum ao vivo (1999), e também um DVD, cujo repertório abordou regravações dos antigos sucessos, bem como algumas músicas inéditas na sua voz.
Em 2004 voltou aos meios de comunicação com o projeto Vagabundo, em que canta com o grupo carioca Pedro Luís e a parede com produção de Carlos Matau, obtendo relevante sucesso de público e crítica, originando também um espetáculo homônimo, do qual saiu o álbum ao vivo e o DVD, em 2005.
Ainda em 2005, lançou o álbum e DVD Canto em qualquer canto, que trouxe regravações dos antigos sucessos, entre outras releituras de sucessos alheios e duas canções inéditas.
Ney Matogrosso estreou em 2007 um dos espetáculos mais comentados, Inclassificáveis, originando um CD e um DVD.
Este permaneceu em cartaz até 2009, contando com apresentações de visual impactante e andrógeno, e sonoridade comportando apenas guitarra, violão, percussões, programações e baixo.
Nesse mesmo ano, Ney Matogrosso protagonizou o filme Luz nas trevas, de Helena Ignez, continuação do filme O bandido da luz vermelha, de 1968.
No final do mesmo ano lançou o elogiado álbum Beijo bandido, trazendo músicas inéditas e regravações.
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