Slobodan Milošević nasceu em Požarevac, na Sérvia, há exatos 70 anos, em 20 de agosto de 1941.
Foi presidente da Sérvia entre 1989 e 1997, e da República Federal da Iugoslávia, entre 1997 e 2000.
Também foi o principal líder do Partido Socialista da Sérvia desde a sua fundação, em 1990.
Slobodan Milošević nasceu no seio de uma família abastada.
Em 1953, afiliou-se à Liga dos Comunistas da Iugoslávia, nome como ficou conhecido o Partido Comunista da Iugoslávia a partir de 1952.
Estudou Direito na Universidade de Belgrado, formando-se em 1964, e iniciou sua atividade profissional na administração da República Socialista da Sérvia, mais precisamente em Belgrado, como assessor do prefeito e como chefe do serviço de informação do município.
Em 1965, casou-se com Mirjana Markovic, que ocupava o cargo de professora de Teoria Marxista na Universidade de Belgrado.
Em 1968, passou para o mundo empresarial, onde ocupou diversos cargos em empresas de autogestão.
Começou a trabalhar na companhia energética estatal (Technogas), da qual foi nomeado diretor-geral em 1973.
Em 1978, ascendeu para a direção do maior banco iugoslavo, o Beogradska Banka (Banco de Belgrado).
Com a morte de Tito (1980), Milošević começou a entrar paulatinamente na política.
Apesar de aparecer como um homem introvertido e orador sem carisma, em 1983 é eleito para presidir o Comitê Central do Partido Comunista da Sérvia, cargo para o qual é reeleito em 1986 e 1988.
Em maio de 1989, é eleito Presidente da República Iugoslava da Sérvia.
Este rápido percurso, que, em sete anos, levou-o de mero técnico da administração a Presidente da Sérvia surpreendeu a todos.
Milošević possuía um perfil burocrata.
Em 1988, agrava a tensão dentro das fronteiras da Sérvia, principalmente com a Eslovênia.
Milošević passa a desfrutar de um enorme apoio popular.
Tem o apoio da Igreja Ortodoxa Sérvia.
Sua rápida ascensão política coincidiu com a radicalização do nacionalismo, que teve lugar na sociedade sérvia, no momento em que o comunismo soviético perdia força.
Em 1989 decide transformar o Partido Comunista em Partido Socialista da Iugoslávia.
Sob sua direção, teve início uma afirmação institucional da identidade sérvia, em detrimento das demais populações minoritárias.
Em junho de 1989, em plena efervescência nacionalista, Milošević se apresentou em Kosovo perante uma multidão de um milhão de sérvios e pronunciou o famoso Discurso de Gazimestan, uma celebração do nacionalismo sérvio que trouxe sérias consequências.
Em janeiro de 1990, realiza-se o décimo quarto e último Congresso da Liga dos Comunistas da Iugoslávia.
O fosso entre a Sérvia e a Eslovênia já era incurável, principalmente por causa da intransigência de Milošević.
Milan Kucan, que lidera os eslovenos, decidiu retirar a delegação de seu país do Congresso.
O mesmo seria feito imediatamente pelo croata Ivica Račan.
É o fim da política federal e multiétnica da Iugoslávia.
Em junho de 1990, Milošević renomeia a Liga dos Comunistas da Sérvia em Partido Socialista da Sérvia, do qual é eleito presidente.
Após a realização de referendos em junho de 1991, Croácia e Eslovênia proclamam sua independência.
No contexto da desintegração da Iugoslávia e das guerras que ali ocorreram contendo episódios de ataques deliberados contra civis que foram classificados como crimes contra a humanidade, genocídio e limpeza étnica, e da responsabilidade que tinha Milošević por ser o presidente da Sérvia, foi chamado, por alguns meios de comunicação, por grande parte da opinião pública ocidental e pelos adversários políticos, de o Carniceiro dos Bálcãs.
O Exército Federal intervém na Eslovênia.
Milošević não tem interesse no país, etnicamente compacto e apoiado pela Áustria e Alemanha.
A atenção de Milošević se move ao longo de toda a Croácia, em especial nas regiões habitadas por sérvios.
Seu plano é anexar os territórios sérvios da Croácia e uma boa parte da Bósnia e Herzegovina, criando assim uma "Grande Sérvia".
No segundo semestre de 1991, Milošević, o exército federal iugoslavo e tropas paramilitares começaram uma guerra violenta contra a Croácia.
O exército iugoslavo penetra profundamente em território croata, chegando a ameaçar Zagreb.
Neste contexto, fez um pacto com o Presidente croata, Franjo Tudjman, para a partição da Bósnia (já orientada para a independência) entre sérvios e croatas.
Em abril de 1992, a Bósnia e Herzegovina declarou sua independência.
Passam a surgir episódios de violência e Milošević parte em defesa dos sérvios, minoritários na república separatista.
Milošević apoia militar e politicamente Radovan Karadzic, líder dos sérvios da Bósnia, que mancha o pais com crimes de guerra.
Na oposição, algumas vozes começam a levantar-se contra a ameaça nacionalista (Círculo de Belgrado), mas em dezembro de 1992, Milošević é novamente reeleito como presidente, desta vez nas eleições com sufrágio universal.
A Guerra da Bósnia culmina com o massacre de Srebrenica em julho de 1995, perpetrado pelas forças sérvias contra os bósnios muçulmanos, precipitando a intervenção da OTAN.
A guerra civil dura mais de três anos, tendo o exército de Milošević praticado todo o tipo de atrocidades contra bósnios, croatas e muçulmanos, naquele que foi o mais sangrento conflito europeu pós-Segunda Guerra Mundial.
A saída militar sérvia da condução desses eventos, e os Acordos de Dayton em dezembro de 1995 põem fim à guerra na Bósnia e Herzegovina e na Croácia.
Em outubro de 1995, Milošević é proibido de entrar nos Estados Unidos.
As eleições municipais de 1996 foram denunciadas por alguns segmentos como fraudulentas, o que desencadeou uma grande onda de protestos, com manifestações diárias em Belgrado, durante o mês de dezembro até o início de 1997.
Ódios seculares expostos, coube a Milošević e à Sérvia o papel de causadores do conflito.
Com isto, a nação é isolada da comunidade internacional.
Terminado o conflito da Bósnia, os habitantes de maioria albanesa na província de Kosovo entram em conflito com milicianos sérvios autônomos, com o apoio implícito de Milošević.
Em maio do mesmo ano, quando a guerrilha já controla cerca de 40% do país, Milošević concorda em negociar com os kosovares.
No ano seguinte, Estados Unidos e União Europeia forçam os dois lados a retomar negociações na Conferência de Rambouillet.
A Iugoslávia rejeita a proposta de maior autonomia para a província seguida pelo envio de uma força de paz internacional.
Assim, o país é bombardeado por forças da OTAN em 1999, incluindo áreas muito longe da zona de conflito, como Belgrado e Novi Sad.
Dezenas de milhares de civis inocentes são mortos.
Boa parte da infra-estrutura civil e militar do país é destruída, o Kosovo passa a ser administrado pela ONU, mas Milošević tenta passar uma imagem de salvador da Sérvia.
A crise aumenta no país, até culminar com sua derrota nas eleições de 1999.
Milošević recusa-se a aceitar o resultado das urnas, e o mesmo povo que treze anos antes o levara ao poder exige sua deposição, em outubro de 2000.
Milošević é deposto e passa para a clandestinidade.
Em 2001, o Tribunal Penal Internacional em Haia solicitou a detenção de Milošević ao governo formado depois do golpe de estado do ano anterior, que levara ao poder Vojislav Koštunica, apesar da Iugoslávia ainda não ter reconhecido formalmente a jurisdição deste tribunal.
Em 28 de junho de 2001, Milošević foi preso em seu país e transferido para Haia, sem que fosse sequer julgada sua extradição, como mandava a legislação penal iugoslava.
Em troca, o presidente americano George W. Bush libera verbas para a reconstrução do país.
Em Haia, teve início o processo criminal contra Milošević no Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia, em que é acusado por crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio, cometidos durante a Guerra Civil Iugoslava.
Na sequência da transferência de Milošević, a acusação original de crimes de guerra no Kosovo foram atualizados pela adição de acusações de genocídio na Bósnia e crimes de guerra na Croácia.
O julgamento começou em Haia, em fevereiro de 2002, com Milošević se defendendo enquanto se recusava a reconhecer a legalidade da competência do tribunal.
Milošević foi encontrado morto em sua cela em 11 de março de 2006, no centro de detenção do tribunal penal em Scheveningen, em Haia.
O Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia disse que ele sofria do coração e pressão alta.
Seu julgamento era esperado para retomar três dias depois com o depoimento do ex-presidente de Montenegro, Momir Bulatovic.
O tribunal tinha rejeitado recentemente um pedido de tratamento médico na Rússia.
Milošević planejava apelar da decisão, argumentando que sua condição tinha piorado.
Sua morte por causas naturais foi anunciada pelo Partido Socialista da Sérvia, mas seu advogado, Zdenko Tomanovic, afirmou que Milošević suspeitava às vésperas de sua morte, que estava sendo envenenado, e, por isso, exigiu que a autópsia fosse realizada na Rússia, em vez da Holanda.
O pedido foi rejeitado e seu corpo foi levado para o Instituto Forense Holandês, que autorizou a presença de um patologista de Belgrado.
O relatório final do inquérito concluiu que Milošević morreu de causas naturais, descartando a presença de qualquer substância que poderia provocar um problema cardíaco.
O Tribunal negou qualquer responsabilidade sobre a morte de Milošević, alegando que ele se recusara a tomar os medicamentos que lhe foram receitados, e preferiu medicar-se por conta própria.
Slobodan Milošević |
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