terça-feira, 21 de dezembro de 2010

NELSON RODRIGUES

Nelson Rodrigues nasceu em Recife, a 23 de agosto de 1912. Foi um importante dramaturgo, jornalista e escritor brasileiro.

Nascido na capital pernambucana, Nelson Rodrigues mudou-se para o Rio de Janeiro ainda criança, onde viveria por toda sua vida.

Seu pai, o ex-deputado federal e jornalista Mário Rodrigues, perseguido politicamente, resolveu estabelecer-se na então capital federal em julho de 1916, empregando-se no jornal "Correio da Manhã".

Segundo o próprio Nelson em suas "Memórias", seu grande laboratório e inspiração foi a infância vivida na Zona Norte da cidade.

Dos anos passados numa casa simples na rua Alegre, 135 (atual rua Almirante João Cândido Brasil), no bairro de Aldeia Campista, saíram para suas crônicas e peças teatrais as situações provocadas pela moral vigente na classe média dos primeiros anos do século XX e suas tensões morais e materiais.

Retraído, era um leitor compulsivo de livros românticos do século XIX. Nesta época ocorreu também para Nelson a descoberta do futebol, uma paixão que conservaria por toda a vida e que lhe marcaria o estilo literário.

Na década de 1920, Mário Rodrigues fundou o jornal "A Manhã". Seria no jornal do pai que Nelson começaria sua carreira jornalística, na seção de polícia, com apenas treze anos de idade.

Os relatos de crimes passionais e pactos de morte entre casais apaixonados incendiavam a imaginação do adolescente romântico, que utilizaria muitas das histórias reais que cobria em suas crônicas futuras.

Neste período a família Rodrigues conseguiria atingir uma situação financeira confortável, mudando-se para o bairro de Copacabana, então um arrabalde luxuoso da orla carioca.

Apesar da bonança, Mário Rodrigues perderia o controle acionário de "A Manhã" para o sócio. Mas, em 1928, com o providencial auxílio financeiro do vice-presidente Fernando de Melo Viana, Mário fundou o diário "Crítica".

Como cronista esportivo, Nelson escreveu textos antológicos sobre o Fluminense Football Club, clube para o qual torcia fervorosamente.

A maioria dos textos eram publicados no "Jornal dos Sports". Junto com seu irmão, o jornalista Mário Filho, Nelson foi fundamental para que os Fla-Flu tivessem conquistado o prestígio que conquistaram e se tornassem grandes clássicos do futebol brasileiro.

Nelson Rodrigues criou e evocava personagens fictícios como "Gravatinha" e "Sobrenatural de Almeida" para elaborar textos a respeito dos acontecimentos esportivos relacionados ao clube do coração.

Nelson seguiu os seus irmãos Mílton, Mário Filho e Roberto, integrando a redação do novo jornal. Ali continuou a escrever na página de polícia, enquanto Mário Filho cuidava dos esportes e Roberto, um talentoso desenhista, fazia as ilustrações.

"Crítica" era um sucesso de vendas, misturando uma cobertura política apaixonada com o relato sensacionalista de crimes. Mas o jornal existiria por pouco tempo.

Em 26 de dezembro de 1929, a primeira página de "Crítica" trouxe o relato da separação do casal Sylvia Serafim e João Thibau Jr.

Ilustrada por Roberto e assinada pelo repórter Orestes Barbosa, a matéria provocou uma tragédia. Sylvia, a esposa que se desquitara do marido, e cujo nome fora exposto na reportagem, invadiu a redação de "Crítica" e atirou em Roberto com uma arma comprada naquele dia.

Nelson testemunhou o crime e a agonia do irmão, que morreu dias depois.

Mário Rodrigues, deprimido com a perda do filho, faleceu poucos meses depois. Sylvia, apoiada pelas sufragistas e por boa parte da imprensa concorrente de "Crítica", foi absolvida do crime.

Finalmente, durante a Revolução de 30, a gráfica e a redação de "Crítica" são empastelados e o jornal deixa de existir. Sem seu chefe e sem fonte de sustento, a família Rodrigues mergulha em decadência financeira.

Foram anos de fome e dificuldades para todos. Pouco afinados com o novo regime, os Rodrigues demorariam anos para se recuperarem dos prejuízos.

Ajudado por Mário Filho, amigo de Roberto Marinho, Nelson passa a trabalhar no jornal "O Globo", sem salário. Apenas em 1932 é que Nelson seria efetivado como repórter no jornal. Pouco tempo depois, Nelson descobriu-se tuberculoso.

Para tratar-se, retira-se do Rio de Janeiro e passa longas temporadas em um sanatório na cidade de Campos do Jordão. Seu tratamento é custeado por Marinho, que conquistou a gratidão de Nelson pelo resto de sua vida.

Recuperado, Nelson volta ao Rio e assume a seção cultural de "O Globo", fazendo a crítica de ópera. Em 1940 casou-se com Elza Bretanha, sua colega de redação.

A partir da década de 1940, Nelson divide-se entre o emprego em "O Globo" e a elaboração de peças teatrais.

Em 1941 escreve "A mulher sem pecado", que estreou sem sucesso. Pouco tempo depois assina a revolucionária "Vestido de noiva", peça que estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com estrondoso sucesso.

O teatrólogo Nelson Rodrigues seria o criador de uma sintaxe toda particular e inédita nos palcos brasileiros. "Vestido de noiva" é considerada até hoje como o marco inicial do moderno teatro brasileiro.

A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no grande representante da literatura teatral do seu tempo, apesar de suas peças serem taxadas muitas vezes como obscenas e imorais.

Em 1945 abandona "O Globo" e passa a trabalhar nos Diários Associados. Em "O Jornal", um dos veículos de propriedade de Assis Chateaubriand, começa a escrever seu primeiro folhetim, "Meu destino é pecar".

O sucesso do folhetim alavancou as vendas de "O Jornal" e estimulou Nelson a escrever sua terceira peça, "Álbum de família".

Em fevereiro de 1946, o texto da peça foi submetido à censura federal e proibido. "Álbum de família" só seria liberada em 1965.

Em abril de 1948 estreou "Anjo negro", peça que possibilitou a Nelson adquirir uma casa no bairro do Andaraí. Em 1949 Nelson lançou "Doroteia".

Em 1950 passa a trabalhar no jornal "Última Hora". Ali, Nelson começa a escrever as crônicas de "A vida como ela é", seu maior sucesso jornalístico.

Na década seguinte, Nelson passa a trabalhar na recém-fundada TV Globo, participando da bancada da "Grande Resenha Esportiva", a primeira mesa-redonda sobre futebol da televisão brasileira.

Em 1967 passa a publicar suas "Memórias" no mesmo jornal "Correio da Manhã" onde seu pai trabalhou cinquenta anos antes.

Nos anos 70, consagrado como jornalista e teatrólogo, a saúde de Nelson começa a decair, por causa de problemas gastroenteorológicos e cardíacos de que era portador.

O período coincide com os anos da ditadura militar, que Nelson sempre apoiou. Entretanto, seu filho Nelson Rodrigues Filho torna-se guerrilheiro e passa para a clandestinidade.

Neste período também aconteceu o fim de seu casamento com Elza e o início do relacionamento com Lúcia Cruz Lima, com quem teria uma filha, Daniela, nascida com problemas mentais.

Depois do término do relacionamento com Lúcia, Nelson ainda manteria um rápido casamento com sua secretária Helena Maria, antes de reatar seu casamento com Elza.

Nelson faleceu numa manhã de domingo, em 21 de dezembro de 1980, há exatos 30 anos, aos 68 anos de idade, de complicações cardíacas e respiratórias.

Foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo. No fim da tarde daquele mesmo dia ele faria os treze pontos na Loteria Esportiva, num bolão com seu irmão Augusto e alguns amigos de "O Globo".

O CEDOC – Centro de Documentação da Funarte possui amplo acervo sobre o dramaturgo, como fotos de peças, programas das produções teatrais, resenhas e comentários sobre espetáculos teatrais, entre eles "Vestido de Noiva".

Boa parte dos registros fotográficos de peças do dramaturgo existentes no CEDOC foram feitos pelo Estúdio Foto Carlos e foram digitalizadas graças ao projeto Brasil Memória das Artes, incluindo registros de raridades, como uma participação de Nelson Rodrigues como ator.

Nélson Rodrigues escreveu dezessete peças teatrais. Sua edição completa abrange quatro volumes, divididos segundo critérios que agruparam as obras de acordo com suas características, dividindo-as em três grupos: Peças psicológicas, Peças míticas e Tragédias cariocas.


Nenhum comentário: