Depois de lutar por mais de 13 anos contra um câncer na região abdominal, o ex-vice-presidente da República José Alencar morreu na tarde desta terça-feira (29), aos 79 anos, em São Paulo.
A morte foi às 14h41 em decorrência do câncer e de falência múltipla dos órgãos.
O corpo será velado nesta quarta-feira (30), no Palácio do Planalto, em Brasília.
Na quinta-feira (31), o corpo vai para Belo Horizonte, onde será novamente velado no Palácio da Liberdade e, posteriormente, enterrado no cemitério do Bonfim, na capital mineira.
Durante o tratamento contra o câncer, Alencar foi submetido a 17 cirurgias, perdeu um rim, dois terços do estômago e partes dos intestinos delgado e grosso.
Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva, pai de três filhos - Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia - e avô de cinco netos (em 2001 ele passou a responder a um processo de reconhecimento de paternidade ajuizado por Rosemary de Moraes).
O quadro clínico do empresário que ajudou a eleger Lula em 2002 e em 2006 piorou três dias antes do último Natal, quando foi internado com urgência após uma nova hemorragia abdominal provocada pelo tumor no intestino.
Os médicos contiveram o sangramento, mas não puderam retirar os tecidos comprometidos pela doença, impedindo o político mineiro de se despedir do cargo em Brasília e de participar da posse da presidente Dilma Rousseff.
De dezembro até os primeiros meses de 2011, o ex-vice voltou a ser internado diversas vezes, sempre em situação muito grave.
Cirurgias foram descartadas nas últimas internações devido ao estado delicado de sua saúde.
Em novembro de 2009, Alencar garantiu que se a saúde permitisse seria candidato ao Senado.
No início do ano passado, cogitou tentar o governo de Minas Gerais.
Porém, em abril, afirmou que não disputaria cargos por estar em tratamento de quimioterapia contra o câncer.
"Decidi não me candidatar a nada. Vou cumprir o meu mandato até o último dia, se Deus quiser, e descer a rampa da mesma forma que subi. Subi a rampa com ele [Lula], vou descer com ele. Ele também não se afastou, vamos juntos", disse na ocasião.
Proibido pelos médicos, ficou no hospital enquanto Dilma e seu sucessor, Michel Temer, recebiam o cargo no Palácio do Planalto.
Os problemas do ex-vice-presidente com o câncer começaram em 1997, quando descobriu dois pequenos tumores malignos no rim direito e no estômago.
Na ocasião, Alencar foi operado no mesmo dia.
Submeteu-se a duas cirurgias - em 2000 e 2002 - para tratar de um câncer da próstata.
Em 2006, foi a vez de um tumor retroperitonial (atrás da membrana serosa que recobre as paredes do abdome e a superfície dos órgãos digestivos).
Em outubro de 2007 Alencar foi operado novamente do tumor no retroperitônio.
Numa revisão da cirurgia em 20 de dezembro, foi detectado um "ponto minúsculo" na mesma região, e os médicos decidiram fazer sessões de quimioterapia para combatê-lo.
Entre 12 e 19 de janeiro de 2008, ficou internado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por conta de uma infecção decorrente da quimioterapia.
Recebeu alta aparentando fragilidade, mas com otimismo.
Na ocasião, disse que queria almoçar em uma churrascaria.
Depois disso, voltou a ser hospitalizado outras vezes para ser submetido a tratamentos de quimioterapia.
No dia 26 de julho de 2008, Alencar admitiu em uma entrevista coletiva que estava novamente com câncer.
Ele disse a jornalistas, em Brasília, que exames de rotina feitos em São Paulo mostraram "uma recorrência".
Na ocasião, ele descartou a possibilidade de se afastar temporariamente da Vice-Presidência da República.
Em janeiro de 2009, enfrentou cerca de 17 horas de operação para a retirada de nove tumores na região abdominal.
Na mesma cirurgia, os médicos retiraram parte do intestino delgado, outra do intestino grosso e uma porção do ureter, canal que liga o rim à bexiga.
Alencar ficou internado 22 dias após a operação.
Já em maio do mesmo ano, novos exames apontaram o retorno de tumores malignos em "alguns pontos da cavidade abdominal".
Mas, no final de outubro de 2009, Alencar disse que o último exame realizado mostrava uma "redução substancial" dos tumores.
No início de julho de 2010, Alencar deu entrada no hospital Sírio-Libanês para uma sessão de quimioterapia, mas apresentou uma crise de hipertensão e foi internado em seguida.
Após três dias, foi diagnosticada uma isquemia (deficiência na irrigação sanguínea) cardíaca, o que estava provocando uma irrigação insuficiente em uma das paredes laterais de seu coração.
Por isso, foi feita a colocação do stent (dispositivo para dilatar vasos sanguíneos) no coração.
Na ocasião, ele também passou por um cateterismo (exame para verificar as condições de vasos sanguíneos).
Em setembro, o vice-presidente voltou a ser internado para tratar um edema agudo de pulmão.
Já no final de outubro, Alencar foi internado com um quadro de suboclusão intestinal.
No começo de novembro, sofreu um infarto agudo do miocárdio e foi submetido a um novo cateterismo.
No dia 27 de novembro, Alencar foi operado para desobstruir o intestino.
A cirurgia durou cinco horas e resultou na extração de dois nódulos e 20 centímetros de seu intestino delgado.
No final do procedimento, ele sofreu uma arritmia cardíaca, que foi revertida.
No meio de dezembro, Alencar deixou o hospital após passar 25 dias se recuperando da cirurgia e submetendo-se a sessões de hemodiálise, por conta do comprometimento das funções renais.
Em 22 de dezembro, porém, voltou ao hospital, de onde só recebeu alta no dia 26 de janeiro.
Alencar voltou a ser internado às pressas no dia 9 de fevereiro devido a uma perfuração intestinal.
Ele deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no dia 15 de fevereiro e recebeu alta médica 34 dias depois.
No dia 28 de março retornou ao hospital em situação considerada crítica e foi internado novamente na UTI.
Filho de um pequeno comerciante de um vilarejo mineiro, José Alencar Gomes da Silva começou a trabalhar cedo e deixou a família quando tinha 14 anos para empregar-se numa loja na sede do município de Muriaé (MG).
Em 1947, atrás de um emprego melhor, mudou-se para Caratinga, cidade em que conheceu Mariza, com quem se casou.
Aos 18 anos, foi emancipado pelo pai (na época, a maioridade civil ocorria aos 21 anos) e, com apoio financeiro de um irmão, abriu uma loja na cidade.
Hoje, a Coteminas S.A., controlada pela família de Alencar, é a maior empresa do setor têxtil do país e um dos mais importantes grupos econômicos do Brasil.
Alencar causou surpresa, à esquerda e à direita, ao aceitar a posição de vice na vitoriosa chapa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, na campanha de 2002.
Quatros anos depois, foi reeleito vice-presidente.
Em julho de 2010, um juiz da comarca de Caratinga (MG), declarou José Alencar oficialmente pai de Rosemary de Morais, que passou a assinar Gomes da Silva.
A sentença faz parte de uma ação de reconhecimento de paternidade ajuizada em 2001.
* Publicado no UOL às 14:55 hs.
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