A resolução apresentada pela França, Reino Unido, EUA e Líbano defendendo a implementação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia foi aprovada hoje no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Também foram aprovadas "todas as medidas necessárias para defender os civis" no país, exceto uma invasão por terra.
A criação dessa zona autoriza o abate de aviões do ditador líbio, Muammar Gaddafi, que decolem para atacar tropas opositoras.
Em outras palavras, a ONU liberou o uso da força militar para que a resolução seja respeitada.
A medida endurece ainda o embargo e as sanções contra Gaddafi, seus familiares e círculo mais próximo de colaboradores implementadas no mês passado.
Bens e fundos de investimento do ditador e sua família na Suíça e na União Europeia há haviam sido congelados semanas atrás.
A resolução foi aprovada por dez votos a favor, nenhum contra e cinco abstenções, entre elas a Rússia e a China, que detêm poder de veto.
Surpreendemente, o Brasil se absteve da votação.
O Itamaraty confirmou o voto brasileiro na ONU à Folha.com, por telefone.
O resultado da votação chega em meio a um clima de extrema urgência na comunidade internacional, horas após o regime de Gaddafi fazer na TV estatal uma promessa de ataques para "limpar Benghazi, sem piedade", e oferecer anistia aos que se renderem.
A embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, disse que o país não está convencido de que o uso da força levará ao objetivo primordial de defesa ao povo líbio e que a resolução pode ter um efeito não desejado de "aumentar os confrontos no solo".
ONU aprovou medidas militares contra a Líbia; França disse que operações podem começar em questão de horas |
Ela ressaltou que o Brasil continua apoiando a resolução passada no Conselho sobre a Líbia, que impôs sanções como proibição de viagens e veto à venda de armas ao país.
A diplomata brasileira condenou ainda publicamente o uso de violência contra os manifestantes, o desrespeito aos direitos humanos e pediu o direito à liberdade de expressão.
Ela defendeu, contudo, uma solução aos confrontos através de um "diálogo significativo", "uma solução pacífica e sustentável".
Horas antes da votação, o primeiro-ministro francês, François Fillon, adiantou que em caso de aprovação da medida na ONU, Paris estaria disposta a dar início às operações dentro de apenas algumas horas.
Os EUA disseram que já preparavam seus operativos e entre os países árabes, Qatar e Emirados Árabes Unidos podem participar, disse mais cedo o representante da Liga Árabe na ONU, Yahya Mahmassani.
A Itália, país cuja posição estratégica no Mediterrâneo é crucial para o sucesso de qualquer operação contra a Líbia, também dissera que participaria das ações.
"Nós não nos esquivaríamos de nossas obrigações, embora nossa posição tenha sempre sido de moderação e equilíbrio", disse o Ministro da Defesa italiano Ignazio La Russa, em Roma.
Aeroporto de Benina, em Benghazi, foi um dos primeiros alvos de Gaddafi após os rebeldes tomarem aviões. |
A base de Sigonella, na ilha italiana da Sicília, dá suporte logístico à Sexta Frota dos EUA e é uma das bases da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) mais próximas à região.
No Reino Unido, um parlamentar próximo ao Ministério da Defesa confirmou ainda na tarde de quinta-feira que o país já mantinha caças da Força Aérea Real britânica em stand-by prontos para serem despachados ainda hoje à noite.
"Limparemos Benghazi, toda Benghazi, dos criminosos e de qualquer um que tente ferir nosso líder e nossa revolução. Não teremos piedade contra colaboradores dos rebeldes", diz a mensagem do regime transmitida repetidamente durante a quinta-feira na TV estatal, prometendo ataques contra o bastião da oposição no sábado.
Forças de Gaddafi começaram o bombardeio a Benghazi na tarde desta quinta; regime prometeu "limpar" cidade. |
As ameaças chegam após o regime divulgar outro comunicado alertando que ações militares externas podem resultar em danos a alvos civis e militares no Mediterrâneo como parte de um contra-ataque de suas forças.
"Qualquer ação militar externa contra a Líbia deixará todo o tráfego áereo e marítimo no mar Mediterrâneo exposto e instalações civis e militares se tornarão alvos do contra-ataque da Líbia", disse o comunicado transmitido pela TV estatal e distribuído pela agência oficial de notícias Jana.
Ainda na noite de quarta-feira (16), em meio a alertas do filho de Gaddafi, Saif al Islam, de que bastavam 48 horas para a vitória contra os rebeldes na Líbia, membros do Conselho de Segurança da ONU mais uma vez falharam na tentativa de obter um consenso sobre uma ação militar para deter o avanço do regime na repressão aos opositores.
O vice-embaixador da Líbia na ONU, Ibrahim Dabbashi, disse na ocasião que o mundo tinha dez horas para agir antes que um genocídio ocorra nas batalhas em Ajdabiyah, prevendo o início dos confrontos para esta quinta-feira.
* Publicado no UOL às 19:38 hs.
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