A provocação da artilharia norte-coreana levou mais inquietação a uma das regiões mais tensas do planeta. Num ato de guerra, Pyongyang bombardeou pequena ilha situada na fronteira. Dois fuzileiros e três civis sul-coreanos perderam a vida e dezesseis ficaram feridos. Há oito meses, outro ataque afundou barco militar de Seul. Morreram 46 marinheiros. Obama classificou o ato de “provocativo e ultrajante”. A China pediu “bom senso” aos personagens envolvidos.
As duas Coreias, finda a guerra de 1950-1953, não assinaram tratado de paz formal. Comprometeram-se apenas com um precário cessar-fogo. Os Estados Unidos mantêm quase 30 mil homens estacionados no território do sul. Cientista americano convidado a visitar as instalações nucleares do país comunista constatou reais avanços nas condições de produzir armas de destruição maciça. Significa que o estado de tensão deve aumentar.
Ao quadro inquietante acrescenta-se ingrediente explosivo. Trata-se do processo interno de sucessão. O ditador Kim Jong-il, com problemas de saúde graves, quer assegurar o governo para o filho mais novo. Embora tenha sido promovido a general, o ungido é considerado demasiado jovem e inexperiente para assumir tal responsabilidade. O mais velho perdeu a confiança do pai por criticar o regime. Em declaração pública, defendeu o respeito à liberdade de imprensa – pecado mortal na nação que disputa o triste posto de mais fechada do mundo.
O clima torna-se mais preocupante diante da penúria de Pyongyang. A população passa privações extremas. Sem alimentos e praticamente sem divisas, o país investiu no desenvolvimento do potencial militar para barganhar a desmobilização. Quer sentar-se à mesa de negociações a fim de forçar o diálogo e marcar posição. As agressões ao vizinho, porém, sempre imprevisíveis, frustram-lhe as pretensões.
Analistas julgam que os ataques não visam deflagrar a guerra, mas forçar conversações. A avaliação tranquilizadora, contudo, longe está de afastar apreensões. Nação mais militarizada do mundo, a Coreia do Norte, além de artefatos nucleares, tem artilharia capaz de facilmente atingir Seul. Dois quintos da população de 23 milhões de pessoas pertencem às Forças Armadas.
Impõem-se esforços da comunidade internacional para que os vizinhos tomem o rumo da negociação, não do confronto. Pequim, aliada de Pyongyang, desempenha papel-chave no processo. Não deve fazer jogo duplo nem ignorar a responsabilidade que lhe pesa sobre os ombros. É sabido que, no mundo das armas, o risco não se concentra no disparo calculado de um foguete, mas no ato impensado ou ditado pelo desespero.
* Editorial publicado no Diario de Pernambuco de hoje.
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