quinta-feira, 25 de novembro de 2010

POR UM CAPIBARIBE MELHOR*

A Prefeitura do Recife anuncia para até o fim do ano o lançamento de licitação para a primeira fase do projeto denominado Capibaribe Melhor, que prevê uma série de intervenções entre os bairros do Monteiro e Iputinga - inclusive a construção de uma ponte sobre o rio, ligando as duas comunidades.

Um conjunto de obras estruturadoras deve beneficiar uma população superior a 200 mil pessoas, nas Zonas Norte e Oeste do Recife. Além da ponte, a primeira fase do projeto contempla a construção do Parque de Apipucos e a recuperação dos Parques do Caiara e Santana, com investimentos garantidos pelo Banco Mundial.

Antes de festejarmos a concretização deste respeitável propósito, cabe recorrer a tudo mais que diz respeito ao nosso grande rio. A começar pelo reconhecimento por este marco - o Dia do Rio Capibaribe - que pela primeira vez foi festejado ontem, 24 de novembro.

A data permite um encontro renovado com novos e velhos problemas ambientais, a começar pela instingante questão: "Eu quero nadar no Capibaribe. E você?". Na pergunta fica evidenciada a resposta crítica: Quero, mas não posso. Ninguém pode, porque estamos perante um daqueles cursos d'água que fazem o prestígio de grandes aglomerações urbanas e termina sendo vítima delas.

O Capibaribe, como o temos hoje, está mais próximo de um charco que de um rio. O processo de degradação é acelerado, proporcional à ocupação vertiginosa dos núcleos urbanos.

Se há algumas décadas era possível fazer do Capibaribe inspiração para os nossos grandes poetas, no correr dos anos as populações que fugiram do campo e ocuparam desordenadamente as cidades foram dando sua cota para a sujeira do rio, com o despejo de esgotos, águas servidas e lixo, impedindo a mais generosa inspiração poética.

A poluição e o fim do oxigênio no rio deixaram na memória os peixes e os pescadores, tanto quanto os mais de trinta pontos de referência turística. Turismo é incompatível com sujeira.

Por isso são fartas razões para festejarmos, antecipadamente, a decisão da Prefeitura do Recife. Nada que diga respito ao Capibaribe pode parecer excesso. Muito pelo contrário. A vida desse rio é a vida de todo o seu percurso, desde a nascente, na Serra do Jacarará, entre Poção e Jataúba, no Agreste de Pernambuco.

Seus 240 quilômetros de extensão carregam muito da vida dos 42 municípios que são banhados. Quando chega ao Recife, faz-se, também, história e geografia urbana, na formação da Várzea, Caxangá, Apipucos, Monteiro, Poço da Panela, Santana, Casa Forte, Torre, Capunga, Derby, Madalena.

Um braço atravessa Afogados, passa pela Ilha do Retiro e Ilha Joana Bezerra, até juntar-se ao Tejipió. Quando caminha em direção ao fim do percurso, mistura-se com o Beberibe e ei-lo cartão postal - ou quase - por trás do Palácio do Campo das Princesas, antes de desaguar no Oceano Atlântico.

Seu braço sul passa por Afogados, Ilha do Retiro, rumo à Ilha Joana Bezerra, juntando-se ao rio Tejipíó e chega à foz em pleno Porto do Recife.

O problema que se coloca - frente às comemorações de um dia dedicado ao rio ou aos propósitos de desenvolver ações ambientais localizadas - é que vêm de muito tempo os propósitos de devolver ao Capibaribe o mínimo da vida que lhe foi tirada.

Os estudos são abundantes, as comparações com outros rios que foram salvos permitem acreditar que também podemos salvar o Capibaribe, mas os obstáculos parecem imensos e vão sendo postergados.

Queremos expressar nossa satisfação em ver que se cria mais uma expectativa em favor do rio, mas a ela acrescentando nosso temor de que não seja dada, ainda, a ênfase, a dimensão e a urgência que o problema exige.

Até porque a degradação é uma atividade social complexa, que se agrava a cada dia, exigindo, pois, reações diárias para fazer, de fato, um Capibaribe melhor.

Assim, também não podemos perder de vista que não se trata de um problema dos governantes, mas de toda a sociedade.

Qualquer pretensão de devolver vida ao Capibaribe passa pelo envolvimento da população.


















* Editorial publicado no Jornal do Commercio de hoje.

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