A cólera é uma infecção intestinal aguda causada pelo Vibrio cholerae, que é uma bactéria capaz de produzir uma enterotoxina que causa diarréia. O Vibrio cholerae é transmitido principalmente através da ingestão de água ou de alimentos contaminados.
Na maioria das vezes, a infecção é assintomática (mais de 90% das pessoas) ou produz diarréia de pequena intensidade. Em algumas pessoas (menos de 10% dos infectados) pode ocorrer diarréia aquosa, potencialmente fatal, com evolução rápida (horas) para desidratação grave e diminuição acentuada da pressão sangüínea.
Uma pessoa infectada elimina o Vibrio cholerae nas fezes por, em média, 7 a 14 dias. A água e os alimentos podem ser contaminados principalmente por fezes de pessoas infectadas, com ou sem manifestações. Em alimentos, a bactéria pode sobreviver por até cinco dias na temperatura ambiente (15 a 40°C), ou por até dez dias entre 5 e 10°C. É resistente ao congelamento, embora a sua multiplicação fique mais lenta.
São fatores essenciais para a disseminação da doença condições deficientes de saneamento, particularmente a falta de água tratada.
O risco de transmissão da cólera é variável entre países e, dentro de um país pode haver diferenças de risco entre regiões e, até mesmo, entre diferentes bairros de uma cidade. O risco de aquisição da cólera para quem fica em bairros com saneamento básico adequado é relativamente menor e, basicamente, está mais relacionado aos alimentos, uma vez que podem estar contaminados na origem e o seu preparo exige higiene adequada.
O Vibrio cholerae não resiste a temperaturas acima de 80°C. Portanto, os alimentos mais seguros são os preparados na hora, por fervura, e servidos ainda quentes. Os de maior risco são os mal cozidos ou crus, como as saladas, os frutos do mar, os preparados com ovos, os molhos, as sobremesas tipo mousse, bebidas não engarrafadas industrialmente, leite não pasteurizado, sucos, sorvetes e gelo. Os legumes são facilmente contaminados e difíceis de serem lavados adequadamente.
Para reduzir os riscos, a alimentação deve ser efetuada em locais que tenham condições adequadas ao preparo higiênico de alimentos, além de observar cuidados adicionais. A alimentação na rua com vendedores ambulantes constitui um risco elevado. Os alimentos devem ser bem cozidos e servidos logo após a preparação, para evitar nova contaminação com a bactéria. Os alimentos preparados com antecedência devem ser novamente aquecidos, imediatamente antes do consumo e servidos ainda quentes. Água mineral gaseificada e outras bebidas engarrafadas industrialmente, como refrigerantes, cervejas e vinhos são geralmente seguras. Café e chá bebidos ainda quentes não constituem risco.
A fervura da água antes do consumo, durante pelo menos um minuto, é uma alternativa segura. Para desinfecção de frutas e verduras deve ser utilizado 2 ml (40 gotas) de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água. As frutas e verduras devem ser mantidas imersas por 30 minutos na água clorada. Em seguida devem ser lavados com água tratada com a concentração de cloro adequada à sua utilização.
Quando o risco de infecção é muito elevado, a utilização da vacinas orais, como medida complementar, deve ser considerada para pessoas com diminuição da secreção ácida do estômago, em gastrectomizados ou indivíduos com atividade de alto risco (como trabalho em campos de refugiados, em áreas endêmicas). As vacinas contra a cólera não estão disponíveis na rede pública.
O tratamento da cólera consiste basicamente em reidratação. A desidratação pode ser danosa em qualquer idade, mas é particularmente perigosa em crianças pequenas e idosos. Nos casos leves e moderados, o médico pode recomendar que o tratamento seja feito em casa, com a solução de reidratação oral, ingerindo bastante líquido, preferentemente uma solução reidratatante contendo sais e glicose, em concentrações adequadas. Deve ser alternada com outros líquidos (água, chá, sopa).
Nas diarréias mais acentuadas, um Serviço de Saúde deve ser procurado o mais rápido possível. Os casos graves devem ser hospitalizados para hidratação venosa até a melhora das condições clínicas da pessoa e, tão logo quanto possível, a reidratação oral deve ser feita simultaneamente.
Os medicamentos antidiarreicos, do mesmo modo que em todas as outras diarreias de causa infecciosa, estão contra-indicados no tratamento da cólera. Esses medicamentos diminuem os movimentos intestinais, facilitando a multiplicação do Vibrio cholerae. Como resultado, ocorre piora ou aumento na duração da diarréia.
Na maioria dos casos, mesmo nas formas graves, a recuperação é completa e rápida, apenas com a reidratação adequada. Nas formas graves, os antibióticos quando iniciados nas primeiras 24 horas de doença, podem diminuir a duração da diarréia e, com isto, as perdas de líquido, o que facilita a recuperação.
Nos casos sem gravidade, o uso de antibióticos não é justificável, uma vez que não trazem qualquer benefício comprovado na evolução da doença ou interferência na sua disseminação. Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos aumenta o risco do surgimento de resistência no Vibrio cholerae (e em outras bactérias intestinais), o que pode dificultar o tratamento das formas graves.
O número de mortos pela epidemia de cólera no Haiti passa de 1.100, segundo o Ministério da Saúde do país. O número de hospitalizados passa de 19 mil. O clima no país segue tenso, com o aumento da epidemia. Centenas de jovens haitianos ocuparam o centro de Porto Príncipe, atacaram soldados brasileiros da força de paz da ONU e levantaram barricadas para protestar contra a epidemia do cólera.
Os manifestantes cercaram e atiraram pedras em um caminhão com soldados brasileiros da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), que tentaram afastar a multidão apontando suas armas, sem sucesso.
A epidemia de cólera deve se agravar no país onde milhões de pessoas vivem em campos de refugiados desde o terremoto de 12 de janeiro, em condições higiênicas precárias. Há também a perspectiva de que a epidemia irá se expandir até a República Dominicana.
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