Quando um terrorista detonou no Aeroporto Internacional de Domodedovo, o principal de Moscou, explosivos amarrados ao corpo, mais um episódio se acrescentava à inexcedível violência terrorista resultante da desintegração da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991.
Houve, quase de imediato, o reconhecimento da independência a três territórios situados na região caucasiana - Armênia, Geórgia e Azerbajão -, que não se estendeu a sete outros do Cáucaso Norte.
A manutenção da hegemonia russa ali despertou a resistência da Chechênia, numa escalada que evoluiu de movimentos de protesto à execução de atentados brutais.
O quadro político russo se complica cada vez mais, em consequência desses atentados.
As 35 pessoas mortas e 100 feridas na entrada do terminal do Domodedovo, em atentado atribuído a separatistas chechenos, juntam-se a centenas de outras sacrificadas por meio de ações anteriores.
As 35 pessoas mortas e 100 feridas na entrada do terminal do Domodedovo, em atentado atribuído a separatistas chechenos, juntam-se a centenas de outras sacrificadas por meio de ações anteriores.
A mais feroz ocorreu em 29 de março de 2010.
Duas mulheres suicidas se imolaram com detonação de explosivos no metrô de Moscou.
Quarenta e uma pessoas morreram.
Operação de resgate (mal-sucedida) de mais de mil reféns em uma escola de Beslan (Ossétia do Norte), realizada por agentes russos de segurança, pôs fim à vida de 330 seres humanos.
Militantes do terrorismo checheno assumiram a iniciativa da tragédia.
No retrato do conflito transformado em desafio terrorista, cabe anotar a renúncia do Kremlin aos mecanismos das negociações, para fixar-se em decisão, até agora irresistível, de sufocar pela força das armas a reação separatista.
No retrato do conflito transformado em desafio terrorista, cabe anotar a renúncia do Kremlin aos mecanismos das negociações, para fixar-se em decisão, até agora irresistível, de sufocar pela força das armas a reação separatista.
Jamais figurou alternativa na agenda política de Moscou que admitisse debater a instalação na Chechênia de uma república islâmica.
Ainda que o tema não prosperasse, seria útil para favorecer certo grau de distensão, com eventual aumento da autonomia política local.
Mas, apesar do impasse, nenhuma motivação libertária pode conceder ao antagonismo checheno o direito de agir pela chacina e, assim, prefigurar-se como resistência ultrajante à consciência civilizada do mundo.
Questões econômicas, como a exploração e a distribuição de petróleo, realçam a obsessão russa de conter pela coação militar a revolta chechena.
Questões econômicas, como a exploração e a distribuição de petróleo, realçam a obsessão russa de conter pela coação militar a revolta chechena.
Há relações de interesses bastante complexas - vale dizer, de pacificação difícil e problemática.
As apreensões com o quadro ameaçador causam repercussões políticas indesejáveis na Rússia.
O primeiro-ministro Vladimir Putin, enquanto exercia a presidência do país, garantiu alcançar a estabilidade na Chechênia.
Agora, candidato de novo a presidente nas eleições de março de 2012, Domodedovo, clímax da ousadia terrorista, o expõe a considerável desgaste político.
Quanto à solução para o problema, dois caminhos se abrem para o futuro: a Rússia intensificará a repressão a cargo das forças armadas ou aceitará discutir a contingente concessão da independência chechena.
Quanto à solução para o problema, dois caminhos se abrem para o futuro: a Rússia intensificará a repressão a cargo das forças armadas ou aceitará discutir a contingente concessão da independência chechena.
A primeira hipótese é a mais provável, a julgar pela atual e mais enérgica mobilização da reação militar.
* Editorial publicado hoje no Diario de Pernambuco.
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