domingo, 9 de janeiro de 2011

VILLEGAIGNON

Nicolas Durand de Villegaignon foi um cavaleiro da Ordem de Malta e diplomata francês nascido em Provins, em 1510.

Como oficial naval, alcançou a distinção de Vice-almirante da Bretanha. Notabilizou-se, entre outros feitos, pela fundação de um estabelecimento colonial francês na costa do Brasil, conhecido como França Antártica.

Aos onze anos de idade, quando perdeu o pai, o jovem Villegaignon possuía bons conhecimentos de latim.

Nesse momento, a mãe decidiu encaminhá-lo para Paris (1521), a fim de prosseguir os estudos.

Lá, se estabeleceu no Hôtel des Auges, frequentando os colégios religiosos La Manche e Montaigne, onde foi colega do jovem Calvino.

Estas instituições prepararam-no para o ingresso na Universidade de Paris, onde concluiu o curso de Direito, aos vinte anos de idade (1530).

Ao concluir seus estudos, Villegaignon tentou ser admitido como advogado pelo Parlamento de Paris.

Após essa tentativa, entretanto, veio a abandonar o projeto de uma carreira como advogado, tendo solicitado o seu ingresso na escola de navegação da Ordem de Malta, que naquela época se instalava na ilha de Malta, com o fim de patrulhar as águas do Mediterrâneo, à época infestadas de piratas argelinos.

Villegaignon permaneceu em treinamento entre 1531 e 1540, aperfeiçoando-se na arte militar, de marinharia, da diplomacia e nas línguas, passando a dominar o italiano, o espanhol e o grego.

Em 1540, foi enviado à Veneza, onde fez amizade com o poeta François Rabelais.

Mais tarde, Villegaignon foi incorporado pela diplomacia francesa ao grupo de quatrocentos cavaleiros de Malta que integrou o exército do Imperador Carlos V, que marchou sobre Argel.

No retorno, Villegaignon escreveu um pequeno livreto narrando a campanha, obra que alcançou edições em latim e em francês, tendo agradado ao Imperador e à Corte romanas.

A missão seguinte de Villegaignon foi a de se dirigir a Budapeste, a fim de observar a concentração das forças de Carlos V e das de seu oponente, Suleimão, em termos de situação militar, quantidade e qualidade de tropas, armamentos e fortificações, o que desempenhou em poucas semanas (1542).

De volta à Itália, destacou-se na batalha de Cérisoles e passou às pressas para Ponte Stura, com a missão de fortificar aquele castelo. Nesta fase, a atuação de Villegaignon no norte da Itália estendeu-se até 1547.

Henrique II da França também confiou missões diplomáticas a Villegaignon na Itália.

Em Paris, confiou-lhe a missão de varrer os piratas ingleses da costa da Bretanha, o que concluiu em poucas semanas, com o afundamento de cinco navios ingleses.

Em 1551, Villegagnon dirigiu-se à ilha de Malta, para auxiliar na sua defesa diante do cerco imposto pelos turcos.

Vitorioso, regressava a Paris com uma carta do Grão-mestre da Ordem de Malta para o rei da França, quando a sua nau foi capturada pelos austríacos, sendo Villegaignon aprisionado no Castelo de Cremona.

Apelando a Carlos V, conseguiu a sua libertação.

Em 1554, Villegaignon visitou secretamente a região do Cabo Frio, na costa do Brasil, onde seus compatriotas habitualmente escambavam.

Ali obteve valiosas informações junto aos Tamoios, informando-se dos hábitos dos portugueses naquele litoral, colhendo dados essenciais ao futuro projeto de uma expedição para a fundação de um estabelecimento colonial.

O local escolhido localizava-se cerca de duzentos quilômetros ao sul: a baía de Guanabara, evitada pelos portugueses devido à hostilidade dos indígenas na região.

O projeto concebia transformá-la em uma poderosa base militar e naval, de onde a Coroa Francesa poderia tentar o controle do comércio com as Índias.

Embora na ocasião não a tenha visitado, estava acerca dela bem informado por André Thévet, que já a havia visitado por duas vezes, estando ciente de que os portugueses receavam os Tupinambás, indígenas ali estabelecidos.

Na ocasião, fez boas relações com ambos os povos (Tamoios e Tupinambás), recolhendo, além de valiosas informações, uma boa carga, com a qual lucrou ao retornar à França.

Gravura de Villegaignon mostrando a baía de Guanabara em 1554

Em seu retorno à Corte, fez uma demorada exposição de quatro horas ao soberano e a Diana de Poitiers, convencendo-os das vantagens de uma colônia permanente na costa do Brasil.

Em fins de 1554, o soberano ordenou ao seu principal ministro, Gaspard de Coligny, a preparação de uma expedição sigilosa ao Brasil, cujo comando entregou a Villegaignon.

À falta de voluntários para integrá-la, Villegaignon percorreu as prisões do norte da França, prometendo a liberdade a quem quer que se lhe juntasse.

Para não despertar a atenção do Ministro de Portugal na França, Villegaignon fez espalhar a notícia de que a expedição se dirigia à costa do Guiné.

Desse modo, a expedição zarpou a 14 de agosto de 1555, com duas naus e uma naveta de mantimentos, nas quais se comprimiam cerca de seiscentas pessoas.

Villegaignon era protegido por uma pequena guarda pessoal de escoceses.

A expedição era integrada por um índio Tabajara, na qualidade de intérprete e na companhia de sua esposa, francesa.

Acompanhava-a ainda André Thevet, que, por razões de saúde, entretanto, retornaria à França a 14 de fevereiro de 1556.

Destacavam-se ainda, entre os passageiros, Boissy, sobrinho de Villegagnon; Nicolas Barré, ex-piloto; dois beneditinos, conhecedores de botânica, que criaram a primeira escola católica na Guanabara.

Após serem repelidos nas ilhas Canárias pela artilharia da guarnição espanhola de Tenerife, alcançaram a costa do Brasil, na altura de Búzios, a 31 de outubro de 1555.

Atingiram a baía de Guanabara em 10 de novembro.

Instalaram-se às margens da Guanabara, na região da atual praia do Flamengo, entre a foz do rio Carioca e o outeiro da Glória.

Entrada de Villegaignon no Rio de Janeiro (Museu Histórico Nacional, RJ)

Ali se projetava o estabelecimento de Henriville, em homenagem ao rei Henrique III da França.

Villegaignon, de armadura, assiste à missa no Rio de Janeiro que marcou o início da França Antártica em 1555

Fortificou a ilha de Serigipe, escolhida como local de estabelecimento da principal defesa da França Antártica.

Para esse fim, foram providenciados alojamentos em terra e desembarcados homens, armas, munições e ferramentas.

Apesar das dificuldades com a mão-de-obra europeia, graças ao auxílio dos indígenas, o forte foi concluído em três meses.

Ao fim de alguns meses, entretanto, essa mão-de-obra cansou-se dos presentes que recebia, assim como do excesso de trabalho, uma vez que os franceses se esquivavam das tarefas mais pesadas.

Compreendendo a precariedade da sua posição, Villegaignon solicitou ao soberano um efetivo de três a quatro mil soldados profissionais, centenas de mulheres para casarem no local e operários especializados.

Em 14 de fevereiro de 1556, ocorreu a primeira revolta na França Antártica: trinta conjurados liderados por um intérprete normando que fora obrigado a casar-se com uma indígena, planejaram o assassinato de Villegaignon, defendido por apenas oito homens de sua guarda escocesa.

Denunciada, a conspiração foi abortada e reprimida exemplarmente: o líder evadiu-se, dois conspiradores foram julgados e executados na forca, e os demais alcançaram penas menores.

Quanto às relações entre colonos, predominantemente do sexo masculino com as indígenas, Villegaignon exigiu o casamento dos franceses com elas perante a expedição.

Como resultado, muitos franceses fugiram para a floresta, passando a viver entre os indígenas. Alguns casaram-se contra a vontade, outros rebelaram-se e foram punidos, até mesmo ameaçados de morte.

Patentes as dificuldades de disciplina, crescia o descontentamento entre os colonos, muitos franceses tendo aproveitado a visita de navios mercantes para retornar ao país.

Um outro ponto de atrito foi a discordância de Villegaignon quanto à prática da antropofagia por seus aliados Tupinambás.

A etapa seguinte foi a instalação da colônia em terra firme, o que se iniciou em meados de 1556.

Foi erguida com os tijolos fabricados em uma olaria assinalada nas ilustrações da época como "briqueterie".

Entretanto, acirrando-se as lutas religiosas na França, começou-se a cogitar a França Antártica como um possível refúgio para os protestantes.

Dessa forma, estando o rei da França impossibilitado de enviar os recursos requisitados por Villegaignon, por falta de meios à época, Gaspard de Coligny solicitou a Genebra, reduto Calvinista, que levasse um grupo de Calvinistas ao Brasil, a fim de estudar a possibilidade de para ali transferir milhares de protestantes perseguidos na França.

Foram, desse modo, indicados dois pastores: Pierre Richier e Guillaume Chartier.

Nove outros indivíduos foram aceitos no grupo, ao qual se juntou ainda Jean de Lery. Os gastos correram por conta de Coligny e do próprio Villegaignon.

O grupo partiu da França a 19 de novembro de 1556, transportando cerca de 300 pessoas, inclusive cinco moças para se casarem no Brasil.

Sem poder abastecer-se nas Canárias, necessitaram assaltar navios portugueses e espanhóis para obter água e provisões, racionadas durante a viagem, marcada, de resto, pela indisciplina a bordo.

A 26 de fevereiro de 1557 chegavam à baía de Guanabara.

Embora decepcionado com o modesto reforço, Villegaignon acolheu afavelmente os recém-chegados, tendo escrito a Calvino em 31 de março de 1557, expondo as suas dificuldades.

Quando os pastores calvinistas regressaram à França no início de 1558, Villegaignon dispunha apenas de oitenta homens, entre franceses e escoceses.

Diante das acusações dos calvinistas, na França, Villegaignon retornou para justificar-se em 1559, deixando em seu lugar o sobrinho, Bois-le-Compte, à testa do estabelecimento.

Na ausência de Villegaignon, o estabelecimento foi destruído por forças portuguesas comandadas por Mem de Sá em 1560, tarefa concluída por Estácio de Sá, em 20 de janeiro de 1567.

Nesta última fase da campanha, entre 1565 e 1567, ocorreu a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Tropas portuguesas lideradas por Mem de Sá aportam na praia do Flamengo em 20/01/1567, vencendo os franceses

Nicolas Durand de Villegaignon morreu na França, em 9 de janeiro de 1571, há 440 anos, portanto.

Em sua homenagem, na França, foi inaugurado na sua cidade natal em 1 de agosto de 2000, um pequeno obelisco, erguido com pedras retiradas da ilha de Villegaignon, oferecido pela Marinha do Brasil, inaugurado pelo embaixador do Brasil na França conjuntamente com o Prefeito da cidade.

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