O delicado momento da economia nacional, com inflação e gastos públicos crescentes e exagerada valorização do real, exige respostas rápidas e firmes do governo.
O Banco Central tem feito sua parte.
Na última sexta-feira, anunciou o aumento dos depósitos compulsórios (reserva de dinheiro que os bancos são obrigados a manter na instituição).
O adicional, de quatro pontos percentuais, deverá retirar R$ 61 bilhões do mercado.
A redução da liquidez é medida complementar à política monetária no enfrentamento da alta nos preços e deve contribuir, por tabela, para elevação menos substancial das taxas de juros.
Importante é que as diferenças entre o presidente do BC, Henrique Meirelles, de saída do cargo, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmado na equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff, não criem ruídos para a estabilidade do sistema econômico e a definitiva colocação do país no rumo do desenvolvimento sustentável.
Enquanto o primeiro se mostra temeroso com a volta da inflação, o segundo manifesta menos apreensão.
Para o ministro, embora em ascensão, a taxa está dentro da meta de 4,5% fixada para este ano, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
É fato, mas também é verdade que o índice se aproxima do teto, devendo fechar 2010 em 6%.
Um dos mais importantes avanços do país na área econômica, o controle da inflação merece tolerância zero.
Por seu lado, o governo tem que ter igual cuidado na escolha do medicamento e na definição do tamanho da dose que decida ministrar.
A Selic já está em 10,75% ao ano (resultando no juro real mais alto do mundo), com tendência a chegar ao fim de 2011 em 12%.
Apenas essa perspectiva faz subirem as taxas, antecipando os custos danosos do encarecimento do dinheiro na economia.
Observe-se que a crise cambial tem criado dificuldades extras na competição dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Some-se a isso o aumento das importações e o tempo fecha para a indústria nacional.
Apesar dos pesares, o horizonte do setor para o próximo ano ainda é de expansão.
Mas os sacrifícios impostos à iniciativa privada por uma conjunção de fatores, que vão da precária infraestrutura do país ao excesso de burocracia, de impostos e de contribuições, precisam ser aliviados com urgência pelo governo.
Nesse aspecto, a redução da liquidez é uma faca de dois gumes.
Se, por um lado, ajuda a combater a inflação, por outro dificulta os investimentos.
Ou seja, atrapalha a produção, reduzindo a oferta, o que termina por alimentar a alta dos preços.
O país somente resolverá a difícil equação e desatará o nó do crescimento com política fiscal séria e a realização das reformas sempre adiadas, em especial a tributária.
São premissas para expandir os investimentos, dos quais também se depende para solucionar as deficiências, sobretudo na área de energia e transportes.
A receita do Banco Central não basta.
Enquanto os gastos públicos se mantiverem em curva ascendente, ela precisará ser replicada, num círculo vicioso que pouco contribuirá para inserir o Brasil no PrimeiroMundo.
* Editorial publicado hoje no Diario de Pernambuco.
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