sábado, 5 de fevereiro de 2011

CONFIABILIDADE POSTA EM XEQUE *

Apagões acontecem.

Em qualquer país.

Aconteceu nos Estados Unidos, em 2003, deixando 50 milhões de pessoas no escuro em oito estados, incluindo as cidades de Nova York e Detroit.

Os cortes também atingiram Toronto e Otawa, no Canadá.

Duas semanas depois, em Londres, um blecaute de uma hora deixou milhares de pessoas presas nos trens do metrô.

O problema é quando eles se tornam frequentes, pois colocam em xeque a confiabilidade do sistema.

O sistema elétrico brasileiro é considerado um dos mais confiáveis do mundo justamente por ser interligado.

Ou seja, se faltar luz em uma região, a outra pode enviar energia pelas linhas de transmissão.

São mais de 95 mil quilômetros de linhas, sendo mais de 18 mil pertencentes à Chesf, empresa pioneira na construção de hidrelétricas.

Investimentos vêm sendo feitos, mas talvez não na mesma velocidade do crescimento econômico do país.

Para cada um ponto percentual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o consumo de energia elétrica sobe 1,7 ponto e se recursos não forem aplicados surge um gargalo.

O país cresceu em média 3,5% entre 2000 e 2010, mas deve passar para a casa dos 5% até 2019.

Apesar disso, a Empresa de Planejamento Energético (EPE), no seu Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) para o período 2010-2014, calcula que o consumo de eletricidade na rede vai aumentar apenas 4,8%, considerando todas as classes.

"Pode estar havendo falta de linhas de transmissão. É o tipo de coisa que quanto mais tiver, melhor", analisa Ivo Pugnaloni, diretor da Enercons, consultoria especializada no setor elétrico.

Ivo diz que defeitos em equipamentos como o que houve na quinta-feira à noite, atingindo sete estados do Nordeste, são inevitáveis.

Mas acha que se deve trabalhar para tornar os efeitos dessas falhas menos extensos.

Primeiro, fazendo manutenções preventivas constantes.

"Neste caso específico, o sistema podia estar defeituoso, mal planejado ou mal programado. As circunstâncias ainda vão ser investigadas, mas acho muito estranho esse problema ter se propagado a ponto de desligar três usinas".

No PDE, a EPE prevê a necessidade de R$ 214 bilhões em investimentos para melhorar a oferta de energia elétrica, de 2010 a 2019.

Sendo R$ 175 bilhões em geração e R$ 39 bilhões em transmissão.

Muitos empreendimentos já concedidos são problemáticos do ponto de vista ambiental, o que vem atrasando as obras.

O brasileiro, gato escaldado pelo racionamento de 2001 e 2002, desconfia...

* Publicado hoje no Diario de Pernambuco.

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