sábado, 5 de fevereiro de 2011

LIDERANÇA DO PARTIDO GOVERNISTA DO EGITO RENUNCIA *

A liderança do Partido Nacional Democrático (PND), legenda governista do Egito, renunciou ao posto neste sábado.

Safwat el-Sharif, secretário-geral do partido e um dos políticos mais próximos a Mubarak, e Gamal Mubarak, filho do presidente, que presidia o comitê político do PND, renunciaram.

As informações são da TV estatal egípcia.

A emissora chegou a afirmar que Hosni Mubarak também teria deixado o cargo de presidente do partido, mas depois voltou atrás.

Hossam Badrawi, visto como membro da ala liberal do partido e conhecido por manter boas relações com opositores, foi nomeado para ocupar os dois cargos.

Senador, médico de profissão, Badrawi integrava o Conselho de Governo do PND e também era membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos, um organismo governamental.

"Os membros do conselho político do PND apresentaram sua renúncia hoje e decidiu-se designar Hosan Badrawi como secretário- geral do partido e também como chefe do comitê político", diz o breve comunicado divulgado pela legenda, sem explicar o que motivou a mudança.

Maged Botros, integrante do comitê político do PND, disse em entrevista à BBC que continua no cargo.

"Eu não estou renunciando ao partido - tenho orgulho de ser membro desse partido... Se todos os tripulantes abandonarem o barco, ele vai afundar. Temos que fazer valer nossos princípios. Existem erros. Nós admitimos que cometemos erros... Temos que acelerar a reforma política com base nas exigências do povo", declarou ele.

O PND chegou à crise política que o Egito vive atualmente com uma imagem deteriorada pelas denúncias de fraude durante as eleições parlamentares de novembro e dezembro.

Neste sábado, o primeiro-ministro egípcio, Ahmed Shafiq, disse que o governo já começou a negociar com alguns grupos de oposição para obter uma transição negociada do poder no país em crise.

Em entrevista coletiva transmitida pela televisão estatal, Shafiq declarou que o Egito está em vias de recuperar a estabilidade institucional e que o protesto organizado nesta sexta-feira pelos opositores de Mubarak, intitulado de “Dia da Partida”, fracassou.

"Devemos ser otimistas. As instituições do Estado recuperaram a normalidade e a situação é melhor agora", assegurou Shafiq, depois de se reunir neste sábado com o presidente Hosni Mubarak, quatro ministros encarregados de assuntos econômicos e o chefe do Banco Central, Farouk Oqda.

Há 12 dias tomada pelos manifestantes que pedem a saída de Mubarak do poder, Shafiq disse que "a situação na praça Tahrir e dos manifestantes mudou. O 'dia da saída' (celebrado na sexta-feira) fracassou e agora o chamam de 'dia da resistência'. A situação em Tahrir é tranquila e não há detenções de manifestantes".

Além disso, "a polícia se mobiliza de forma gradual para recuperar a tranquilidade e a segurança", acrescentou.

Quanto às conversas com os partidos da oposição, Shafiq disse que elas continuam, "apesar das diversas forças políticas com as quais se dialoga e de suas diferentes posições", mas expressou a disposição do Executivo de "falar com todos".

"Tudo indica que em breve superaremos esta crise", concluiu.

Para reforçar as exigências dos manifestantes que protestam contra Mubarak e das forças de oposição, líderes contrários ao regime se reuniram neste sábado para formar um grupo.

Mohamed El Baradei, da Associação Nacional para a Mudança e do partido da esquerda Tagammu, anunciou a formação de uma frente da oposição com 10 representantes, entre eles o próprio El Baradei, e os líderes da Irmandade Muçulmana, Mohamed Beltagy, e do partido liberal Ghad, Ayman Nour.

El Baradei disse em entrevista à CNN que acredita que o grupo poderá articular melhor  as exigências dos manifestantes diretamente com os integrantes do governo Mubarak. "Queremos falar com o governo, mas queremos ver mudanças", completou ele.

Na noite desta sexta-feira, alguns representantes da oposição egípcia reuniram-se com o primeiro-ministro para reiterar a necessidade de Mubarak renunciar.

Abdel Rahman Youssef, representante da Assembleia Nacional para a Mudança, liderada pelo Nobel da Paz Mohamed El Baradei, declarou à "Al Jazeera" que foram apresentadas a Shafiq duas reivindicações principais: a renúncia do presidente e uma série de passos vinculados aos incidentes violentos dos últimos dias protagonizados por partidários do regime de Mubarak.

"Achamos que sua saída tem que ser agora, seja deixando a Presidência ou saindo do país, ou delegando o poder ao vice-presidente, de acordo com a Constituição", disse Youssef.

"A partir dessa etapa começaríamos a negociar", acrescentou.

* Publicado no UOL às 17:05 hs.

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