domingo, 6 de fevereiro de 2011

VICE ACERTA REFORMAS CONSTITUCIONAIS COM OPOSIÇÃO, MAS NEGA PEDIDO PARA SUBSTITUIR MUBARAK *

O vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, e representantes da oposição decidiram realizar reformas constitucionais e colocar fim à Lei de Emergência, vigente no país desde 1981, informou a televisão estatal.

Segundo o porta-voz do governo, Magdi Radi, as mudanças devem acontecer antes da primeira semana de março.

O representante do governo e os líderes da oposição se encontraram neste domingo, pela primeira vez desde o inicio das manifestações contra o presidente Hosni Mubarak, há 13 dias, para tentar estabelecer uma nova etapa de diálogo e tentar, dessa forma, cessar os protestos.

Segundo a agência de notícias AFP,  líderes da oposição teriam pedido que Suleiman assumisse os poderes do presidente Mubarak, de acordo com informações de um dos participantes da reunião, o que foi negado por ele.

"Pedimos que o presidente delegue a ele seus poderes, de acordo com as prerrogativas que lhe concedem o artigo 139 (da Constituição), mas rejeitou", declarou a fonte, que preferiu não ter o nome divulgado, à AFP.

Segundo a emissora, foi acordada a alteração dos artigos 76 e 77 que estipulam os requisitos para ser candidato presidencial, e o número de mandatos que o presidente pode permanecer no poder.

Houve consenso "sobre a formação de um comitê que contará com o poder judiciário e um certo número de personalidades políticas, para estudar e propor as emendas constitucionais e legislativas que se fizerem necessárias", anunciou Radi.

Abdul Monim Abo al-Fotoh, membro da Irmandade Muçulmana, disse à Al Jazeera que a participação do grupo na reunião de hoje não quer dizer que a exigência da saída de Mubarak foi abandonada.

Desde o início dos protestos, o grupo havia colocado como condição para dialogar com o governo a saída de Mubarak do cargo.

"Não podemos conversar nem negociar sem essa condição. Nós dialogamos com uma condição chave que não será abandonada. Mubarak deve se afastar para permitier que o país avance democraticamente", disse.

Neste domingo, o Exército reforçou as medidas de segurança em torno da emblemática praça Tahrir no Cairo, onde os manifestantes prosseguem acampados e dizem que só vão sair depois da renúncia de Mubarak.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, demonstrou neste domingo apoio à participação do movimento islamita egípcio Irmandade Muçulmana nas conversações políticas que começaram no Egito.

"Soubemos da participação da Irmandade Muçulmana, indicando que, pelo menos, estão envolvidos no diálogo que estimulamos", disse Hillary Clinton à National Public Radio (NPR), a partir da Alemanha.

"Vamos esperar e ver como se desenvolvem as conversações, mas fomos muito claros sobre o que esperamos" delas".

O papa Bento 16 expressou hoje sua preocupação pela situação no Egito e fez votos para que o país "recupere a tranquilidade e a convivência pacífica", levando em conta o bem comum de todos os cidadãos.

O papa fez a manifestação, a primeira pública sobre a situação no Egito, diante de milhares de fiéis na praça de São Pedro durante a reza  dominical no Vaticano.

"Nestes dias acompanho com atenção a delicada situação na querida nação egípcia. Peço a Deus que essa terra, benzida pela presença da Sagrada Família, recupere a tranquilidade e a convivência pacífica, levando em conta o compromisso partilhado para o bem comum", disse.

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, pediu neste domingo que a situação no Egito não ameace a estabilidade do mundo árabe, ao mesmo tempo em que reivindicou uma transição e um reinício ordenado e sem violência.

"Desejamos um processo de transição de maneira ordenada e pacífica, sem impacto negativo na paz e a estabilidade da região", declarou Ban ao fim de sua participação na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.

O secretário-geral das Nações Unidas ressaltou que o regime do Egito está convocado a realizar o mais breve possível as necessárias reformas e mudanças.

Ele não quis falar se o presidente egípcio deve renunciar imediatamente ao cargo e ter um papel central no processo de transição.

Para Ban, a decisão deve ficar nas mãos dos próprios egípcios, pedindo que outros países tirem suas próprias consequências dos fatos ocorridos do Egito.

"É uma boa lição", disse o secretário-geral das Nações Unidas, que sugere aos Governos escutar os cidadãos e satisfazer suas necessidades, antes que despertem protestos como os do Egito.

* Publicado no UOL às 11:34 hs.

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