Um dispositivo que serve para prevenir falhas acabou gerando o apagão que atingiu sete estados do Nordeste.
O equipamento, chamado de cartela do sistema de proteção, identificou um problema que não existia e desligou duas linhas de transmissão, cortando totalmente a ligação entre as usinas de Luiz Gonzaga e Sobradinho, localizadas na divisa entre Pernambuco e Bahia.
A perturbação no sistema interrompeu o intercâmbio de energia com outras regiões e a geração em oito grandes usinas, gerando o blecaute.
Esses são os dados preliminares sobre as causas do apagão divulgados ontem pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf).
O problema começou às 23h08, quando foi registrado o desligamento em uma das duas linhas de transmissão que ligam a Usina Luiz Gonzaga, na cidade de Jatobá (PE), à de Sobradinho (BA).
O problema começou às 23h08, quando foi registrado o desligamento em uma das duas linhas de transmissão que ligam a Usina Luiz Gonzaga, na cidade de Jatobá (PE), à de Sobradinho (BA).
Os técnicos da Chesf tentaram religar, mas em vez disso, há o desligamento da Usina Luiz Gonzaga e do segundo elo de transmissão, cortando totalmente a ligação com Sobradinho.
"Foi aí que começou o blecaute, às 23h21", diz João Herinque Franklin, superintendente de operações da Chesf.
Deu-se, então, o efeito cascata.
Deu-se, então, o efeito cascata.
A falta de transmissão com Sobradinho gerou uma pane, que foi identificada pelo sistema interligado.
"Interrompeu automaticamente o intercâmbio com as regiões Norte e Sudeste, gerando uma queda de 3,2 mil MW na carga", detalha Franklin.
Isso provocou o desligamento parcial de Sobradinho (de 800 MW caiu para 200 MW) e total em cinco usinas do Complexo de Paulo Afonso e em Xingó.
A energia disponível para a região, que deveria ser de 8,8 mil MW, estava em 800 MW.
Dessa forma, foi cortado plenamente o fornecimento em Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Segundo Franklin, o desligamento na transmissão e na geração é um recurso do sistema elétrico para isolar o problema e evitar danos maiores à rede.
E por que o apagão não atingiu uma pequena parte da Bahia e os estados do Piauí e Maranhão?
E por que o apagão não atingiu uma pequena parte da Bahia e os estados do Piauí e Maranhão?
Como o problema afetou parcialmente Sobradinho, a transmissão e a geração entre essa usina e as subestações do sudeste da Bahia foram mantidas.
"Por isso, essa área que vai de Juazeiro à Barreiras não é afetada", conta o superintendente de operações.
Da mesma forma, as linhas que saem de Sobradinho para o Piauí também continuaram funcionando.
Já o Maranhão, apesar de situado no Nordeste, é atendido pelas linhas de transmissão da Eletronorte.
A causa do problema foi identificada às 23h21.
A causa do problema foi identificada às 23h21.
"Houve falha na cartela do sistema de proteção. Por estar com defeito, acusou um problema que não existia na linha de transmissão e forçou o desligamento", relata Franklin.
Quando os técnicos isolaram o sistema com a falha e conseguiram restaurar uma das linhas de Luiz Gonzaga, as usinas foram religadas e a energia chegou aos poucos nas cidades afetadas.
A primeira capital a ser religada foi Fortaleza, à 0h10.
A primeira capital a ser religada foi Fortaleza, à 0h10.
"Por estar mais perto do Piauí, onde o sistema estava funcionando", explica o superintendente de operações.
Recife só voltou a ter luz à 1h35.
A última capital a ter o fornecimento restabelecido foi Natal, às 3h10.
"Era a capital mais distante das áreas não afetadas. E toda a rede tinha que ser normalizada até lá para que fosse religada", justifica.
A última religação foi às 3h37.
A total correção da falha em Luiz Gonzaga só ocorreu às 8h, com a troca da cartela.
Mas o que teria gerado esse defeito na cartela?
Mas o que teria gerado esse defeito na cartela?
Falta de manutenção?
O presidente da Chesf, Dilton da Conti, diz que a perda de autonomia da Chesf, que agora é administrada pela Eletrobrás, não influenciou nos investimentos em manutenção e garante que os equipamentos em questão passaram por testes, em setembro do ano passado.
"É como um carro, que está na garantia, você faz manutenção e mesmo assim dá defeito", compara.
Franklin diz que todos os equipamentos são checados anualmente.
"Em toda a história da Chesf, nunca ocorreu um problema desse tipo. É uma falha pontual. Não voltará a acontecer", defende ele.
* Publicado hoje no Diario de Pernambuco.
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