segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

GADDAFI APARECE NA TV ESTATAL E REITERA QUE AINDA COMANDA O PAÍS *

O ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, fez uma breve aparição na TV estatal líbia há pouco e reiterou que ainda está no comando no país.

As declarações chegam após rumores de que ele teria fugido para a Venezuela e no mesmo dia em que jatos de guerra foram enviados a Trípoli com ordens para atirar contra os manifestantes - o que o filho do líder, Seif al Islam, negou horas depois.

As declarações de Gaddafi à TV chegam também horas após militares terem desertado para Malta, após rejeitarem ordens de atirar contra civis.

Mais cedo também houve indicações de que um grupo de soldados emitiu um comunicando chamando a cúpula do Exército a voltar-se contra o ditador.

"Estou em Trípoli e não na Venezuela", disse Muammar Gaddafi à televisão estatal segurando um guarda-chuva.

O pronunciamento, no qual Gaddafi aparece sentado no banco do passageiro de um carro amarelo segurando um guarda-chuva, durou menos de um minuto.

As imagens foram ao ar por volta das 2h na Líbia (21h no horário de Brasília).

"Estou em Trípoli e não na Venezuela", disse o ditador.

Mais cedo o governo líbio já havia refutado informações divulgadas pelo chanceler do Reino Unido, William Hague, indicando que Gaddafi teria partido para a Venezuela.

"O líder está na Líbia, assim como todos os responsáveis do governo (federal) e (dos governos) locais", disse o vice-chanceler da Líbia, Jaled Kaim.

Imagens da TV estatal da Líbia afirmam que grupo de defensores do ditador se reúnem no centro de Trípoli.

Mais cedo uma fonte da cúpula do governo do presidente venezuelano Hugo Chávez também reiterara que Gaddafi não estava a caminho de Caracas, indicando que até o momento "nenhum contato" com o ditador líbio tinha sido feito.

Ainda na tarde desta segunda-feira o chanceler britânico afirmou ter tido acesso a informações que sugeriam que Gaddafi - que enfrenta desde a semana passada protestos contra seu governo em diversas cidades do país - teria deixado Líbia a caminho da Venezuela.

Dois pilotos da Força Aérea da Líbia desertaram na tarde desta segunda-feira e levaram seus caças para Malta, onde disseram às autoridades que haviam recebido ordens para bombardear manifestantes, segundo fontes do governo maltês.

As fontes disseram que os aviadores - ambos com a patente de coronel - decolaram de uma base perto de Trípoli. Eles estão sendo interrogados pela polícia local, e um dos dois pediu asilo político.

Piloto da força aérea líbia caminha perto de jato Mirage que pousou no aeroporto internacional de Malta.

Os dois disseram que decidiram voar para Malta após receberem ordens para atacar manifestantes em Benghazi, segunda maior cidade da Líbia, epicentro dos protestos contra o regime de Muammar Gaddafi.

A polícia maltesa também está interrogando sete passageiros que chegaram da Líbia a bordo de dois helicópteros com matrícula francesa.

Fontes do governo disseram que os helicópteros deixaram a Líbia sem autorização das autoridades locais, e que só um dos sete passageiros - que afirmam ser cidadãos franceses - tinha passaporte.

A chancelaria francesa disse que estava analisando o caso.

Após os relatos de ataques com jatos de guerra sobre a capital da Líbia, Seif al Islam, filho de Gaddafi, afirmou à TV estatal que os aviões das Forças Armadas do país bombardearam depósitos de armas situados em regiões afastadas das zonas urbanas e não abriram fogo contra os civis que protestavam nas ruas de Trípoli.

A televisão líbia assegurou que al Islam refutou "as informações segundo as quais as Forças Armadas bombardearam as cidades de Trípoli e Benghazi".

Um insulto no mundo árabe, imagem de ditador é atacada com sapato em protesto na Embaixada da Líbia no Cairo

A emissora reproduziu o comunicado do filho do ditador.

"As Forças Armadas bombardearam depósitos de armas situados em regiões afastadas das concentrações urbanas para evitar que os grupos que participam dos distúrbios possam conseguir armas", assegurou Seif al Islam à agência oficial líbia "Jana", segundo a TV estatal.

"A missão das Forças Armadas é proteger o país e não disparar sobre o povo", acrescentou o al Islam, que no domingo tinha advertido que o Exército "permanecerá fiel à Líbia" e que "destruirá aos que realizarem um complô contra o país".

Em discurso televisionado que desencadeou ainda mais a fúria dos manifestantes, o considerado até agora provável sucessor de Gaddafi disse na noite de domingo que "se o caos chegar, em vez de chorar pelos 80 mortos nos últimos dias, choraremos por centenas de milhares de nossos irmãos e seremos obrigados a fugir de nosso país".

Mais cedo, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que é hora de o regime de Gaddafi interromper o "banho de sangue inaceitável" no país, ao qual "o mundo observa alarmado".

"O mundo observa alarmado a situação na Líbia" e os Estados Unidos "se unem à comunidade internacional para condenar firmemente a violência", afirmou.

Já o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, pediu nesta segunda-feira por telefone ao ditador líbio que "cesse imediatamente" a escalada de violência que está ocorrendo no país.

Ban manteve "uma extensa conversa telefônica" com Gaddafi, a quem expressou sua "profunda preocupação pelo aumento da violência e ressaltou que deve parar imediatamente", indicou a ONU por meio de um comunicado de imprensa.

O Itamaraty emitiu nesta segunda-feira uma nota em que cobra das autoridades da Líbia medidas para preservar a segurança e a livre circulação de estrangeiros.

"O governo brasileiro insta as autoridades líbias a tomarem medidas no sentido de preservar a segurança e a livre circulação dos estrangeiros que se encontram no país. O governo brasileiro tem a expectativa de que as autoridades líbias deem atenção urgente à necessidade de garantir a segurança na retirada dos cidadãos brasileiros que se encontram nas cidades de Trípoli e Bengazi", diz o Itamaraty.

Os telefones de contato da Embaixada do Brasil em Trípoli são: 00xx218 (91) 881-2437 ou 729-3460 ou 322-3151.

A empreiteira brasileira Odebrecht, que emprega 5.000 funcionários líbios e de variados países em diferentes obras em andamento na Líbia, afirmou em comunicado que trabalha para retirar 187 brasileiros atualmente impossibilitados de deixar o país.

O resgate deve ocorrer por meio de voos de carreira e aviões fretados.

Não há indicação de prazo para a chegada do grupo ao Brasil.

Ao menos 600 brasileiros encontram-se atualmente no país, que vive intensos protestos contra o ditador Muammar Gaddafi, há 42 anos no poder, e que até o momento já deixaram 233 mortos.

Além da empreiteira, a construtora Queiroz Galvão mantêm 130 funcionários brasileiros no país e a Petrobras também tem empregados na Líbia.

A assessoria de imprensa da petroleira estatal limitou-se a informar que um comunicado sobre a situação deve ser emitido ainda nesta segunda-feira.

Já a Queiroz Galvão relatou mais cedo à agência Brasil que todos os funcionários "estão bem" e aguardam para seguir viagem em direção a Trípoli, capital líbia.

O grupo trabalha em Benghazi, cidade que registra os protestos mais violentos.

Desde ontem (20), o embaixador do Brasil na Líbia, George Ney Fernandes, aguarda autorização, pedida ao governo do ditador Muammar Gaddafi para um avião fretado pela construtora pousar no aeroporto de Benghazi.

Porém, a autorização ainda não foi concedida.

"A Queiroz Galvão informa que atualmente tem 130 colaboradores brasileiros trabalhando em projetos e obras na Líbia. Todos estão bem e está sendo providenciada sua transferência de Benghazi para Trípoli, capital do país", diz a nota da construtora.

* Publicado no UOL às 21:23 hs.

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