quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

RAÇA NA DECISÃO

Dezembro de 1985.

Por sete dias.

Atlético Mineiro e Cruzeiro.

Travaram um gigantesco duelo.

Realizaram uma das mais equilibradas decisões.

Da história do Campeonato Mineiro.

Na Final de 1985.

270 minutos de futebol.

Rigorosamente empatados.

Até o fim do terceiro combate.

0 a 0 no primeiro duelo.

2 a 2 na segunda partida.

0 a 0 ao fim dos noventa minutos do terceiro jogo.

15 de dezembro de 1985.

83.187 pessoas no Mineirão.

Era o terceiro clássico em uma semana.

Debaixo de muita chuva num domingo.

Mais um duro teste que os times teriam que superar.

Antes desse terceiro e decisivo jogo.

Walter Oliveira, técnico do Atlético.

Fez muito mistério.

O time era uma incógnita.

Na véspera, Paulinho, Heleno, Elzo e Batista.

Tiveram uma gripe muito forte.

A equipe também estava desfalcada.

Do lateral João Luís, que tomara o terceiro amarelo.

E de Tita e Éverton, machucados e fora de combate.

O time do Cruzeiro mostrava-se mais calmo.

Apesar da ausência de Geraldão, Carlos Alberto e Givaldo.

E da declaração do técnico Morais.

Que afirmou não continuar no clube.

Nem com a faixa de campeão.

O Cruzeiro começou melhor no jogo.

Ameaçou o gol de João Leite algumas vezes.

Mirandinha perdeu um gol sozinho aos 32 do 1o. tempo.

Receoso com as condições físicas do elenco do Atlético.

O técnico Walter Oliveira escalou dois cabeças-de-área.

Elzo e Heleno.

O time atleticano se resguardou no primeiro tempo.

Mas Heleno deu lugar a Vítor Capucho no intervalo.

Como num passe de mágica.

O Atlético criou novo ânimo.

Incendiado por sua torcida.

Deixou de ser um time medroso.

E lançou-se à procura do gol.

Mostrava uma desenvoltura fantástica.

Sérgio Araújo virou um demônio dentro de campo.

A sorte também parece ter trocado de lado.

O talentoso meia cruzeirense Tostão.

Levanta as mãos aos 20 do 2o. tempo.

Pediu para ser substituído, sem a mínima condição física.

Minutos depois foi o ponta Róbson.

Não vinha fazendo uma boa partida.

Jogou a toalha, exausto.

Estava assim queimadas as duas substituições do Cruzeiro.

E o domínio do meio-de-campo do Atlético era pleno.

Mas a equipe atleticana não conseguia traduzir em gols.

O maior volume de jogo.

E o tempo regulamentar se esgotou.

0 a 0 no placar.

Eletrizante suspense.

Chegara a hora da prorrogação.

Imperativa.

O árbitro Arnaldo César Coelho.

Deu cinco minutos para as equipes descansarem.

Enquanto do lado do Cruzeiro.

Os jogadores bebiam água e chupavam laranjas.

Do lado do Atlético.

A preocupação era grande.

Com o estado físico dos jogadores.

Paulinho, estafado pela gripe, fugiu da chuva.

Elzo, com um corte profundo no supercílio em disputa de bola.

Sentiu-se fraco e um princípio de tonteira.

Recebeu uma bandagem grossa em toda a cabeça.

"O homem é uma fera", dizia o goleiro João Leite.

"Quando todos acham que ele apagou, ele volta!", completou.

Foi justamente essa disposição de luta de Elzo.

Que começou a decidir a partida.

Mesmo com a camisa suja de barro e sangue.

O jogador, com sua raça, encheu de brio seus companheiros.

Foi um golpe no lento e desajustado Cruzeiro.

Que contava nas mãos os minutos que faltavam.

Para começar a disputa de pênaltis.

O Atlético jogou os 15 primeiros minutos da prorrogação.

Com vontade e objetividade incomuns.

A torcida do Cruzeiro silenciou no Mineirão.

Sua equipe tentava apenas aguentar o empate.

As equipes trocam de lado de campo.

E no reinício da prorrogação.

Como um trovão que despencasse.

Do céu chuvoso de Belo Horizonte.

Quem acabava com as pretensões celestes.

Foi o atacante Paulinho.

Aos 2 minutos do segundo tempo da prorrogação.

Nelinho cobra falta da direita para dentro da área.

Paulinho pegou um chute forte de esquerda.

Proveniente de uma rebatida da defesa do Cruzeiro.

Era o fim da esperança azul.

De ser bi-campeão mineiro.

1 a 0 no marcador para o time preto e branco.

O Atlético ainda teve forças.

Para tentar aumentar sua vantagem.

Em seguida o fim do jogo.

Festa atleticana nas arquibancadas do Mineirão.

Festa dos jogadores ao erguer a taça.

Volta olímpica no gramado.

O mais contente de todos era o atacante Paulinho.

Marcou o gol da vitória.

O Atlético fez jus ao título de Campão Mineiro de 1985.

Melhor ataque e melhor defesa.

Éverton foi o artilheiro do campeonato, com 16 gols..

Venceu 21 partidas, empatou 17 e perdeu apenas 3.

Apesar de ter perdido o primeiro turno.

Venceu o segundo turno.

Venceu a inesquecível e exaustiva Final.

E mostrou que no terreiro de Minas Gerais.

Quem manda mesmo é o Galo!

Foi há exatamente 25 anos...

Ficha do jogo
15 de dezembro de 1985
Atlético-MG 1 x 0 Cruzeiro

Local: Estádio do Mineirão, Belo Horizonte.
Gol: Paulinho, aos 2 do 2o. tempo da prorrogação.
Árbitro: Arnaldo César Coelho.
Assistentes: Aldenir Vieira Matos e Hélio de Freitas Moura.
Público: 83.187 pessoas.

Atlético-MG: João Leite; Nelinho, Batista, João Pedro e Luizinho; Elzo, Heleno (Vítor Capucho) e Paulo Isidoro; Sérgio Araújo, Paulinho e Edivaldo. Técnico: Walter Oliveira.

Cruzeiro: Luiz Antônio; Nenê, Eugênio, Ailton e Ademar; Douglas, Orlando e Tostão (Quirino); Carlinhos, Mirandinha e Róbson (Edu Lima). Técnico: Morais.

Elzo, com supercílio aberto e bandagens: o grande herói atleticano no dia 15/12/1985

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