A autoridade monetária do governo Dilma Rousseff deu, quinta-feira, a primeira demonstração de que não pretende abrir mão da credibilidade conquistada nos últimos anos.
A reação do Banco Central (BC) às pressões geradas pela questão cambial acerta no timing e no conteúdo.
Ninguém deve esperar mudanças bruscas nem profundas na trajetória do dólar nos próximos meses em razão da medida anunciada.
Mas, sem dúvida, ela veio na hora certa.
A criação do compulsório de 60% sobre o valor das posições vendidas em câmbio das instituições financeiras esfriou preocupações desnecessárias.
Elas tinham sido provocadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que na terça-feira convocou entrevista para falar sobre o câmbio e disse apenas que o governo tomaria medidas para "evitar que o dólar derreta".
Nada mais foi informado: agentes financeiros, exportadores e importadores ficaram na expectativa de um anúncio importante.
Nada mais foi informado: agentes financeiros, exportadores e importadores ficaram na expectativa de um anúncio importante.
Como a experiência já ensinou, a sensibilidade desses mercados é fortemente afetada por atitudes que sinalizam insegurança ou falta de ferramentas.
Era preciso oferecer algo bem pensado, logo.
A solução apresentada não fecha a porta aos dólares que entram no Brasil em busca de ganhos exclusivamente financeiros (juros elevados) e cambiais (apostas em mais desvalorização da moeda norte-americana).
Mas torna a operação especulativa mais onerosa e, portanto, menos atraente.
O recente aumento acelerado das posições vendidas em dólar no sistema indicam o convencimento da maioria dos agentes do mercado quanto à continuidade da valorização do real.
Era aconselhável alguma reação preventiva por parte da autoridade.
Era aconselhável alguma reação preventiva por parte da autoridade.
O que não cabe a esta altura é a ameaça vazia, sem qualquer medida efetiva, concreta.
Naturalmente marcado pelo imponderável, o câmbio dispensa e cobra caro por incertezas criadas em vão.
Se está difícil a convivência de parte da indústria, especialmente dos setores menos competitivos ou mais tributados, com o real valorizado, a expectativa frustrada de mudanças anunciadas só serve para pressionar o governo por alguma reação.
O novo BC passou no teste.
Nesse cenário, tão ruim ou pior do que não fazer nada seria optar pela coisa errada.
O compulsório não vai além de colocar um freio moderado no ritmo da especulação que, se exagerada, pode levar a desequilíbrios que exigirão remédios mais amargos e inconvenientes.
Tem ainda a vantagem de evitar novas operações de swaps cambiais reversos que, embora úteis em algumas situações, podem estimular outra face da especulação: a do mercado contra o BC.
Também parece caminhar para o limite da conveniência a compra de dólares no mercado à vista.
Também parece caminhar para o limite da conveniência a compra de dólares no mercado à vista.
Só em 2010 o governo comprou US$ 41 bilhões para amenizar a desvalorização do real.
Trata-se de operação onerosa para o Tesouro, já que a remuneração obtida no mercado internacional por esse dinheiro é muito inferior ao custo de captação em reais no mercado interno.
Portanto, não bastasse a oportunidade da medida, é tranquilizadora a constatação de que o BC, em meio a tantas pressões, não deixou de oferecer uma resposta, mas - e isso é o que importa - nem de longe colocou em risco o paradigma do câmbio flutuante.
* Editorial publicado hoje no Diario de Pernambuco.
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